Ide às ovelhas desgarradas! (Mt 9,35-10,1.6-8)
Todo pastor sabe disso: as ovelhas
costumam tresmalhar. Todo boiadeiro já passou por isso: um novilho desgarrar e
se embrenhar no matagal, ou atolar-se no brejo. Mas nenhum pastor que se preze
fica indiferente ao desastre. Como aquele do Evangelho – o que tinha cem
ovelhas – e preferiu deixar as noventa e nove no ermo para sair em busca da que
se perdeu.
Vivemos um tempo de ovelhas
desgarradas. Sim, eu sei que o ser humano é errático: seu trilho neste mundo
lembra de perto a rota das formigas, que parecem desconhecer a linha reta entre
dois pontos. Homo viator, perpétuo peregrino, vagamos de lá para cá, em
sufocantes engarrafamentos a cada feriado “enforcado”, sempre em busca de uma
felicidade “que está sempre apenas onde a pomos, e nunca a pomos onde nós
estamos” (Vicente de Carvalho).
Mas isto não justifica nossa
indiferença diante daqueles que saíram da estrada real e se perderam nas
trilhas do erro e do mal. De algum modo, somos todos responsáveis uns pelos
outros. Os pais pelos filhos. Os mestres pelos alunos. Os médicos pelos pacientes.
Os governantes pelo povo. Os pastores por suas ovelhas espirituais.
Quando Jesus andou pela Palestina,
também ele pôde contemplar o povo faminto de Deus, uma multidão de párias pelas
encruzilhadas, mendigos e leprosos, refugiados e sem-terra. E Jesus chorou
sobre eles. Mas não se limitou a chorar: enviou ao povo os seus discípulos com
um mandato bem específico: “Ide às ovelhas desgarradas!”
Esta missão inclui cuidados
espirituais (anunciar o Reino que se fez próximo, expulsar demônios), mas
também cuidados materiais (curar enfermos, ressuscitar mortos, limpar leprosos
(cf. Mt 10,8). Aquilo que recebemos como dom gratuito (fé, alegria, paz, saber,
habilidades) deve ser levado àqueles que ainda jazem na descrença, mergulhados
na tristeza e na ignorância.
E quando os desprezados deste mundo
perceberem que alguém se interessa por eles, saberão que Deus não os esqueceu e
enviou seus profetas para mostrar-lhes o Sol nascente. Naturalmente, um sistema
baseado no lucro e na competição há de estranhar a “loucura” desses pastores,
que abrem mão da própria terra, da própria cultura e – pasmem! – até mesmo de
constituir uma família, porque seus filhos e irmãos são os pequeninos deste
mundo!
E nós? Estamos cuidando das ovelhas que ele nos confiou?
Orai sem
cessar: “Eis-me
aqui, Senhor!” (Gn
22,1)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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