Mais uma vez – eles
nunca se cansam! – os fariseus buscam algum motivo para acusar a Jesus e sua “troupe”: quebrando com a mão algumas espigas, ao
atravessarem um trigal, estariam quebrando também o repouso sagrado do sábado.
Ora, tratava-se de uma
leitura excessivamente rigorista da Lei, pois o grupo estava em viagem, e a
mesma Lei (cf. Dt 23,26), atenta às necessidades do pobre, do peregrino, do
estrangeiro em viagem, sabia fazer tais exceções. Por isso mesmo, a virulência
dos inimigos de Jesus seria asperamente repreendida com a palavra do profeta:
“Quero a misericórdia, não o sacrifício!”
Com este argumento
extraído da Escritura Sagrada, Jesus, o Rabi de Nazaré, aponta para uma
hierarquia de valores que deve ser observada no conjunto da Lei: não faz
sentido deixar que alguém morra de fome só porque é o Sábado, quando o Criador
descansou. Em outros termos, o amor pela vida, a proteção dos vivos está muito acima
de qualquer outro preceito menor.
Também para nós,
cristãos, que observamos o Domingo, dia da Ressurreição do Senhor, há deveres
de caridade e de serviço ao próximo que justificam o trabalho necessário e
inadiável. Um médico não pode citar o Catecismo para deixar de atender a um
enfermo. A Igreja sabe (e ensina) que os serviços essenciais devem continuar em
pleno Dia do Senhor. Aliás, hoje, tal como no tempo de Jesus, é exatamente no
dia de repouso que os ministros de Deus trabalham dobrado!
Em nossos dias, os
fariseus continuam vivos e ativos. Sobreviveriam – creio – mesmo a uma guerra
atômica. Os mesmos que acusavam Jesus de desprezar a Lei, quando ele curava, em
dia de sábado, uma doente que sofria há 18 anos! E Jesus pergunta,
indiretamente: “Haverá algo mais importante que salvar uma vida?” Também hoje
eles se dedicam a coar as moscas e engolir os camelos (cf. Mt 28,24). Não
percebem que a própria Lei deve estar submissa ao amor...
Em tempo: misericórdia
não significa libertinagem. Significa que as normas e os preceitos devem ser
passados pelo crivo do amor. Aliás, cada mandamento foi criado exatamente em
vista do amor.
Que espaço tenho
reservado para a misericórdia em minha vida?
Orai sem cessar: “Mostrai-nos, Senhor, a
vossa misericórdia!” (Sl 85,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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