quinta-feira, 18 de setembro de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Ela muito amou... (Lc 7,36-50)
           Os honestos possivelmente não vão gostar. Paciência... A cena é de um banquete. A mulher da rua entra sem ser convidada. Aliás, pecadora pública, não caberia em um convívio exclusivamente masculino, como era o costume. Lava com lágrimas os pés de Jesus. Enxuga-os com seus cabelos e os beija. Unge a cabeça de Jesus com nardo do Egito (cf. Jo 12,3), uma preciosidade. Tudo para escândalo do dono da casa, que despreza o convidado por seu contato físico com uma mulher “impura”.

            Pobre Simão! Triste fariseu! Tão honesto, tão ignorante do pensamento de Deus! Quando Jesus chegara, como convidado, um servo da casa deveria ter lavado seus pés com água. A hospitalidade oriental saudava o visitante com o ósculo da paz, que Jesus não recebera. Costumava-se igualmente perfumar a visita com aromas especiais. Nada disso tinha ocorrido... A recepção dada a Jesus não fora nada calorosa!
            Assim, diante da crítica muda de Simão, o fariseu, Jesus pode responder com o triplo contraste: ali onde faltara a água, a mulher trazia lágrimas; onde faltara o beijo na face, ela vinha com os beijos nos pés; onde faltara o aroma comum, ela derramava o precioso nardo. Tudo demais! Tudo fora da medida! Tudo em excesso, como só faz quem ama...
            No clímax da sequência, Jesus declara alto e bom som que os pecados da mulher estavam perdoados. E nós, modernos fariseus, julgamos que o perdão foi dado como retribuição por seu tríplice gesto. Erramos! É o contrário! De algum modo, antes deste encontro (isto fica bem claro no filme de Franco Zefirelli) ela havia experimentado o amor de Jesus, manifestado por um olhar na esquina. Agora, sim, sentindo-se amada e perdoada, ela é capaz dos gestos que fez. O perdão recebido antecede os gestos de amor...
            O fariseu honesto tinha como catecismo a certeza de que só os “puros” merecem a atenção de Deus. Jesus quebra as tábuas da lei farisaica e demonstra que é o amor que salva, não a honestidade. O mesmo Jesus que tantas vezes afirmara: “Eu não vim para os justos, mas para os pecadores... São os doentes que necessitam de médico...” (Mt 9,12-13.)
            Deus nos livre de todo moralismo afetado. Deus nos permita a experiência de ser perdoados e, livres da culpa, nos tornarmos capazes de muito amar...
Orai sem cessar: “Eu te amo, Senhor, minha força!” (Sl 18,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário