Sei quem tu és! (Lc 4,31-37)
Esta
frase, no Evangelho de hoje, sai exatamente da boca de um demônio. Devíamos
espantar-nos com isto: o próprio espírito mau reconhece a divindade Jesus
Cristo: “Sei quem tu és: o Santo de Deus!”
Mais
tarde, o Apóstolo Tiago o confirmará, ao dizer: “Crês que há um só Deus? Fazes
bem. Também os demônios creem e temem”. (Tg 2,19.) Se o apóstolo quer dizer que
a fé que se proclama deve ser acompanhada de obras em coerência com a fé,
também concluiremos que é preciso mais do que “crer” em Jesus: é preciso
amá-lo, e não viver a combatê-lo, como fazem os demônios...
O
verdadeiro ato de fé acaba coroado por uma entrega a Deus, por um compromisso
de vida na difusão da Boa Nova, por uma vida posta sobre o altar, quando nos
tornamos hóstias vivas em unidade com o Cordeiro pascal. Até lá, nossa fé
permanece uma espécie de noção intelectual, um abstrato exercício da mente. Mas
ainda lhe falta algo de essencial para se transformar em vida...
A
palavra “fé” (do latim, fides) é inseparável da “fidelidade”. O verdadeiro
crente é um “fiel”. Significa isto que ele empenha a palavra – uma espécie de
juramento ou profissão pública –, mas também empenha a vida, subindo ao patamar
do testemunho (ou seja: mártir). Neste sentido é que os primeiros cristãos, ao
pedirem o Batismo, já se declaravam prontos para o martírio!
Voltando
à frase do espírito mau, não seria fora de propósito avaliar que ele tivesse
dúvidas a respeito da verdadeira identidade de Cristo, enquanto Filho de Deus,
e criasse certas situações, tentando forçá-lo a se revelar como tal. Nos
primeiros séculos do cristianismo, um Padre da Igreja chegou a defender a
necessidade da presença de José, junto a Maria de Nazaré, para que Satanás não
conhecesse o mistério de sua concepção virginal, na Encarnação do Verbo.
De
qualquer forma, nós devemos nos sentir interpelados em nossa fé. Seríamos nós,
os batizados, aqueles que ainda alimentariam dúvidas no coração a respeito de
Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, Filho de Deus encarnado?
No
mesmo dia em que escrevia esta reflexão, lia nos jornais que o governo da China
acabava de prender mais um bispo católico. Estou certo de que este Bispo –
Julio Jia Zhiguo, 70 anos – também sabe quem é Jesus. Já passou 20 anos no
cárcere e continua fiel, sob perseguição. E nós? Já sabemos quem é Jesus
Cristo?
Orai sem cessar: “Vossa Palavra é uma luz em meu
caminho!” (Sl
118,105)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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