Pisar em cobras e escorpiões... (Lc 10,17-24)
Estas imagens reaparecem no final do
Evangelho de Marcos (16,18), quando Jesus repete aos discípulos o imperativo de
anunciar a Boa Nova: “Eis os sinais que acompanharão os que crerem: [...] se
pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum”.
Hoje, tempos de racionalismo, a
tendência é “espiritualizar” estas palavras e não as tomar ao pé da letra,
ainda que o exemplo pessoal de Paulo, na Ilha de Malta (cf. At 28,3-6), nos
permitisse fazê-lo. De qualquer modo, “serpentes e escorpiões” são o símbolo
das potências maléficas do inimigo, que oferece todo tipo de obstáculos à
evangelização.
A lição de Jesus é clara: não
devemos esperar facilidades ao anunciar a mensagem do Salvador. Uma sociedade
pagã, ávida de lucro e poder, seduzida pelo sucesso e pela fama, alheia ao
sofrimento dos pobres, jamais ouvirá com aplausos o Sermão da Montanha. A
simples presença de um evangelizador apaixonado por Cristo torna-se denúncia
insuportável aos adeptos de Mammon.
Isto nos leva a uma evidência: só
assume a missão de evangelizar aquele que se dispõe ao sacrifício. Nas palavras
do próprio Jesus: “negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”. Sem esta
prévia disposição de sofrer o peso da missão, ninguém permanecerá firme diante
da oposição do século.
Entre outros fatos da história
recente da Igreja, vale recordar o exemplo de São João Bosco, apóstolo dos
meninos de rua. Quando Dom Bosco abriu seu oratório e nele recolheu os pivetes
de Turim, adotando-os como filhos espirituais, o próprio clero de seu tempo
ergue-se contra a obra, alegando que seu comportamento – aproximando-se daquela
jovem ralé – contribuía para denegrir a imagem dos sacerdotes.
Igualmente, quando Madre Teresa de
Calcutá deixou o convento para se dedicar aos mendigos das favelas, parte das
freiras e das alunas de seu colégio não entendia sua opção. Antes, parecia-lhes
um inaceitável rebaixamento... Ora, Dom Bosco e Madre Teresa nada mais faziam
que imitar o exemplo de Jesus, que também acolhera os desclassificados de seu
tempo.
Assim, não se admire nenhum cristão
se, ao dar um testemunho autêntico de Jesus Cristo, enfrentar críticas e
rejeição, zombaria e ofensas, portas fechadas e campanhas de difamação. Mas
tenha sempre em mente que o Senhor nos deu o poder de calcar aos pés as cobras
e os escorpiões...
Orai sem
cessar: “Não
temerei mal algum, pois estás comigo!” (Sl 23,4)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.
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