Alegra-te! (Lc 1,26-38)
Muitas traduções omitem esse convite
à alegria. Traduzem-no por uma saudação romana: Ave! Ora, o texto grego,
de São Lucas, traz a expressão Chaire, fazendo ecoar o brado de Sofonias
(3,14): “Grita de alegria, filha de Sião, brada aclamações, Israel,
rejubila-te, ri com gosto, filha de Jerusalém. O Senhor cancelou as sentenças
que pesavam sobre ti, afastou teu inimigo. O rei de Israel, o Senhor, ele
mesmo, está no meio de ti, não terás mais de temer o mal.” (Sf 3,14-15.)
Se, por um lado, a filha de Sião é o
próprio povo escolhido, que há séculos espera pelo cumprimento das promessas
relativas ao Messias, por outro lado Maria encarna e resume em sua pessoa esse
mesmo Israel. É a iminência do cumprimento da promessa e a chegada do Messias
“no meio do seu povo” que motiva a alegria. Acabou a longa noite da tristeza,
quando as sentinelas vigiavam, à espera dos lampejos róseos da aurora. Eis o
Sol!
Gabriel, o mensageiro da Anunciação,
compreendia muito bem o alcance da boa notícia que ele trazia à Virgem de
Nazaré. Por isso mesmo, sua primeira frase convida ao júbilo espiritual. Não é
preciso muita imaginação para avaliar com que alegria a jovem Maria galgou as
montanhas de Judá até a casa de Isabel. Essa mesma alegria – fruto do Espírito
Santo – projetou-se em Isabel e no filho que esperava, o Precursor de Cristo.
E nós? Nossa vivência religiosa é
uma experiência de alegria? Ou somos devotos sonolentos, fiéis que mercadejam
graças, católicos lamurientos, sempre insatisfeitos com nossa cruz? Que é que
brota de nossa inserção na Igreja? Que efeitos gera em nós a comunhão
eucarística? Que frutos colhemos do contato diário com a Palavra de Deus?
Já diziam os antigos: um santo
triste é um triste santo! Nossa alegria pode ser o estímulo que atraia muita
gente para Jesus. Nosso azedume e nossas queixas certamente hão de escandalizar
os mais próximos, ao constatarem que nossa religião não se transforma em
vida...
Claro, não confundamos alegria com
alacridade. As maritacas são álacres, barulhentas. Certos grupos religiosos
podem parecer animados, mas não passam de agitados. A verdadeira alegria não é
muscular, epidérmica. Uma alegria profunda é serena e tranquila; podemos
chamá-la de letícia. Ou de paz interior. A alegria é o outro nome da Paz...
Orai sem
cessar: “Minha
única alegria se encontra no Senhor!” (Sl 104,34)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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