Minha mãe e meus irmãos...
(Mt 12,46-50)
Como
posso fazer parte da família de Jesus? Ora, é simples: basta viver como filho
do Pai. Se eu obedeço a Deus – o Pai de Jesus - e faço sua vontade, vivo como
filho e, em consequência, sou familiar de Jesus.
Se
alguém pensou, eventualmente, em utilizar esta passagem do Evangelho para
desmerecer a Mãe de Deus, deu-se mal: exatamente ela, Maria de Nazaré, é o
modelo perfeito e acabado do fiel que faz a vontade do Pai. E ela obedeceu a
essa mesma vontade divina de modo tão integral, que gerou o Filho na carne dos
mortais. Ninguém mais chegou tão alto na obediência...
Mas
o foco desta passagem é outro. Jesus nos ensina que os laços de sangue são
menos importantes que a suave escravidão aos desígnios de Deus. Em outros
termos, a obediência ao querer de Deus é um vínculo que supera sem medidas os
laços de sangue. O resultado dessa constatação está inscrito na própria
história da Igreja. Ao longo das gerações, século após século, uma incontável
legião de fiéis abandonou casa e família, títulos de nobreza e garantias
materiais para se dedicar à missão que o Senhor lhes apresentava. E o faziam
com estranha alegria...
Pense
em Francisco, o menestrel de Assis, que preferiu cortar relações com o pai e
seus projetos financeiros para se entregar de corpo e alma ao chamado de
Cristo. As sedas e brocados deram lugar ao áspero burel cor de barro que
atrairia numerosos seguidores em toda a Europa. A opção de Francisco culminou
com a ira do pai humano, que o deserdou. Era esta a maneira de o “Poverello”
deixar bem evidente sua filiação divina, sua pertença à família de Deus.
Sua
amiga Clara, da família nobre dos Offreducci, poderia ter escolhido um marido
da mais excelente linhagem de sua época. A exemplo de Francisco, Clara de Assis
preferiu abrir mão da força política de seu clã, da admiração de seus
contemporâneos e até de seus cabelos cor de ouro. Era a sua maneira de
consagrar-se a Deus e manifestar claramente que a família do céu importava
muito mais que a família da terra.
Voltando
a Maria de Nazaré, a jovem estava prometida em casamento a José. Na Anunciação
(cf. Lc 1,26ss), diante da proposta de Deus que Gabriel lhe apresentava, Maria
disse “sim”, mesmo sabendo que a gravidez humanamente inexplicável a
transformaria em ré, sujeita à morte por lapidação. Não encontro exemplo mais
claro de uma escolha feita entre os laços de sangue e a vinculação plena à
vontade de Deus.
Orai sem cessar: “Que eu cumpra tua vontade, meu
Deus. É isto que desejo!” (Sl
40,9)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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