Como um grão de mostarda... (Mc 4,26-34)
Como de
costume, Jesus dirige nosso olhar para algo concreto com a intenção de
significar algo impalpável: o Reino dos céus. Já falou dos lírios dos campos,
da erva que murcha, das aves dos céus, do fermento na massa. Agora, quer que
passemos a contemplar a mínima semente: o grão de mostarda.
São João
Crisóstomo [344-407 d.C.] comenta esta parábola: “Que há de maior que o Reino
dos céus? Que há de menor que um grão de mostarda? Como pode Jesus comparar
esse Reino infinito a um minúsculo grão de mostarda, que ocupa tão pequeno
espaço? Entretanto, quando examinamos atentamente o Reino dos céus e o grão de
mostarda, descobrimos quanto é justa e natural esta comparação.
O Reino dos
céus, evidente, não é outra coisa senão o Cristo, pois ele diz de si mesmo: “Eis
que o Reino de Deus está no meio de vós”. (Lc 17,21) Ora, nada é maior que
Cristo em sua divindade, como nos ensina a palavra do profeta: “É ele o nosso
Deus; nenhum outro lhe é comparável. Ele descobriu os caminhos do conhecimento
e os confiou a Jacó, seu servidor, a Israel, seu bem-amado. Assim a Sabedoria
apareceu sobre a terra e viveu entre os homens”. (Br 3,36-38)
Por outro
lado, que há de mais pequenino que o Cristo em sua encarnação, quando se tornou
menor que os anjos e os homens? Ouça-o da boca de Davi: “Que é o homem para que
penses nele, o Filho do Homem, para que te ocupes dele? Tu o quiseste um pouco
menor que os anjos”. (Sl 8,5-6) A interpretação que Paulo nos dá, mostra que se
trata de Cristo: “Nós vemos Jesus colocado um pouco abaixo dos anjos por causa
de sua paixão e morte”. (Hb 2,9)
Como
acontece que Cristo seja ao mesmo tempo o Reino dos céus e o grão? Que seja ao
mesmo tempo grande e pequeno em relação ao Reino? Vejam: sua misericórdia por
aqueles que ele criou é tão grande, que ele se fez tudo para todos para os
ganhar a todos. Por sua natureza, ele era Deus, como o é ainda e o será sempre.
Ele tornou-se homem em vista de nossa salvação. “Que profundidade da riqueza,
da sabedoria e da ciência de Deus! Suas decisões são insondáveis, impenetráveis
os seus caminhos!” (Rm 11,33)
Ó grão, pelo
qual o mundo foi feito, as trevas dispersadas, a Igreja renovada! Como é grande
a força deste grão suspenso na cruz! Enquanto estava ali cravado, por uma
simples palavra soltou do madeiro o ladrão para o mergulhar nas delícias do
paraíso. De seu lado aberto pela lança, este grão deixou manar uma bebida de
imortalidade para os sedentos. Semeado no jardim, este grão mergulhou suas
raízes até os infernos; dali fez saírem as almas e, em três dias, conduziu-as
ao céu.
Semeia este
grão no jardim de tua alma...”
Orai sem cessar: “Se o grão morre,
produz muito fruto...” (Jo 12,24b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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