Tome a sua cruz... (Lc 9,22-25)
Em
tempos de facilidades e de prazeres prêt-à-porter, quando os
fornecedores nos convidam à lei do mínimo esforço, esta é a frase do Evangelho
que nos parece mais antipática e fora de moda: tomar sua cruz... Desde o
início da pregação cristã, a cruz foi objeto de escândalo.
Exatamente
o sinal de nossa salvação – a Santa Cruz, que a liturgia chama de arbor
nobilis [árvore nobre] – torna-se para o mundo neopagão o símbolo de tudo o
que é pesado e detestável. No fundo, enganamo-nos ao pensar que iríamos
arrastar a cruz sozinhos, apenas com nosso próprio esforço e suor.
Santo
Agostinho [+430] já havia tratado do tema:
“Se
alguém quer caminhar em meu seguimento, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e
siga-me. Isto que o Senhor ordenou parece duro e penoso! Mas, na realidade, não
é duro nem penoso, porque aquele que ordena é o mesmo que ajuda a realizar o que
ele ordena.
Pois
também é verdadeira a palavra do Salmo: ‘Por causa das palavras de teus lábios,
eu segui caminhos penosos’. (Sl 17,4.) E é igualmente verdadeira a palavra que
ele mesmo pronunciou: ‘Meu jugo é fácil de levar, e meu fardo é leve’. (Mt 11,30.)
Pois tudo o que é duro no mandamento, o amor o torna fácil.
Que
significa ‘tome a sua cruz’? Que ele assuma tudo o que é penoso: que assim ele
me siga. Pois, quando ele começar a me seguir conformando sua conduta aos meus
mandamentos, haverá muita gente para o contradizer, muitos para se oporem a
ele, inúmeros para o desencorajar. E estes agirão assim a título de
companheiros de Cristo. Eles caminhavam com Cristo, esses mesmos que impediam
os cegos de gritar. Quer se trate de ameaças, de adulações ou proibições, se
queres seguir a Cristo, troca tudo isso pela cruz; tem paciência, suporta, não
te deixes abater!
Esta
palavra não é destinada às virgens, excluídas as mulheres casadas; às viúvas,
excluídas as esposas; aos monges, excluídos os maridos; aos clérigos, excluídos
os leigos. É toda a Igreja, todo o corpo, todos os seus membros, diferenciados
e repartidos segundo suas tarefas próprias, que devem seguir a Cristo.”
Este
não é o tipo de sermão que recebe aplausos de uma numerosa assembleia, reunida
em ondas de louvores abstratos. Ele dói por sua clareza, incomoda por sua
exigência, decepciona por sua verdade.
Nosso
tempo não se destaca pela lógica, é bem verdade... Mas é um notável absurdo a
pretensão de seguir o Crucificado jogando no lixo a própria cruz...
Orai sem cessar: “O
Senhor redobra o vigor do fraco.”
(Is 40,29)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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