Eu também trabalho... (Jo 5,17-30)
Deus é amor. E o amor é ação. Ele
nunca para, mas é dinamismo incessante que se vê impelido a preencher todo
vazio. No amor, não há descanso nem lazer. Na verdade, o Amor é uma Pessoa: o
Espírito de Deus incessantemente projetado do Pai para o Filho e, logo,
devolvido como resposta amorosa do Filho ao Pai. Por isso o Filho “fez bem
todas as coisas” (Mc 7,37).
Foi esse amor ativo e criativo que
gerou o Cosmo, desde os mínimos ovos da borboleta e as flores do jasmim até as remotas
galáxias e as supernovas. Foi o mesmo amor que se debruçou sobre a humanidade
pecadora, para salvá-la do caos e da morte eterna. Foi esse amor que fecundou a
Virgem, transformando-a na Mãe do Belo Amor. É esse amor que mantém sempre
acesa a esperança dos homens e das mulheres, mesmo quando ogivas atômicas
orbitam no planeta...
Neste Evangelho, logo após ter
curado um enfermo, e mais uma vez na mira de seus adversários, Jesus
“justifica” a cura feita em pleno sábado (quando o trabalho era interdito) como
a consequência inevitável do Amor que supera as normas e os estatutos. De uma
vez por todas, amor e trabalho se revelam como dois polos da mesma realidade:
trabalhar por amor e amar por meio do trabalho.
Depois disto, o cristão atento ao
modelo do Mestre jamais cometerá o desatino de traduzir o trabalho humano como
castigo atribuído ao pecado original. Antes, o saudoso Papa João Paulo II nos
recorda: “A consciência de que o trabalho humano é uma participação na obra de
Deus, deve impregnar – como ensina o recente Concílio – também as atividades de
todos os dias. Assim, os homens e as mulheres que, ao ganharem o sustento para
si e para as suas famílias, exercem as suas atividades de maneira a bem servir
a sociedade, têm razão para considerar o seu trabalho um prolongamento da obra
do Criador, um serviço dos seus irmãos e uma contribuição pessoal para a
realização do plano providencial de Deus na história.” (Laborem Exercens,
25)
E mais: “A mensagem cristã não
afasta os homens da tarefa de construir o mundo, nem os leva a desinteressar-se
do bem dos seus semelhantes, mas, pelo contrário, obriga-os a aplicar-se a tudo
isto por um dever ainda mais exigente.”
Extensão da missão de Cristo, a
Igreja trabalha incessantemente para edificar um Reino de amor. E a marca
registrada desse amor é o trabalho. O Reino esperado que Jesus anunciou não
cairá do céu sob a mágica de angélicas trombetas, mas edifica-se dia a dia, com
sangue, suor e lágrimas, transfigurados pela Graça de Deus. E se há muitos
caminhos de salvação, nenhum deles supera o trabalho...
Orai sem cessar: “Por amor de Jerusalém, não
descansarei!” (Is
62,1)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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