O Vento sopra onde quer... (Jo 3,7b-15)
No meio da noite (por medo? ou em
busca de intimidade?), Nicodemos procura por Jesus. Membro do Sinédrio judaico,
provável doutor da Lei, Nicodemos já percebeu que Deus age por meio das
palavras e dos gestos do Filho do Carpinteiro (cf. Jo 3,2), mas ele ainda tem
algumas defesas interiores. Racional e intelectual, Nicodemos tenta
“compreender” Jesus e seus feitos.
Uma simples frase do Rabi da
Galileia mostra que não se pode prender, compreender, engaiolar a ação de Deus
em nossa vida: “O Vento (em grego, pneuma designa ao mesmo tempo
o Vento e o Espírito) sopra onde quer”. Deus é absolutamente livre em
seus projetos, iniciativas e atuações. Mas é de forma suave, mansa, como um
sopro, que Deus pretende agir na vida de todos nós, pois é o primeiro a
respeitar a liberdade que ele mesmo nos concedeu. Esta lição não é absolutamente
nova, pois o profeta Elias já a recebera na caverna do Monte Horeb (cf. 1Rs
19,11-12).
Usando a imagem do Vento,
Jesus se refere a alguma coisa do mundo material (que a razão pode
compreender), mas exatamente, para a época, a mais impalpável e menos concreta
das coisas materiais: o ar em movimento. Assim como o navegante não “vê” o
vento, mas percebe sua ação nas velas e nos movimentos do barco, assim também
podemos perceber a ação do Espírito de Deus pelos seus frutos em nossa vida.
Em nossos dias, talvez Jesus
utilizasse uma outra imagem: a asa-delta que o desportista “veste” e com
ela se lança do rochedo, deixando-se sustentar e guiar pelas correntes de ar
quente, ascendentes, até onde... o vento quiser... Uma imagem que reúne dois
aspectos fundamentais da vida espiritual: o dinamismo do Espírito Santo em nós,
mas também a liberdade humana que decide cooperar com a Graça.
Aprendemos com o “Catecismo da
Igreja Católica”: “A graça de Cristo não entra em concorrência com nossa
liberdade quando esta corresponde ao sentido da verdade e do bem que Deus
colocou no coração do homem. Ao contrário, como a experiência cristã o atesta,
sobretudo na oração, quanto mais dóceis formos aos impulsos da graça, tanto
mais crescem nossa liberdade íntima e nossa segurança nas provações e coações
do mundo externo. Pela obra da graça, o Espírito Santo nos educa à liberdade
espiritual, para fazer de nós livres colaboradores de sua obra na Igreja e no
mundo”. (1742)
Examinemos nossa vida pessoal. Estamos
disponíveis para Deus? Atentos a suas inspirações? Queremos ser guiados pelo
Espírito Santo? Ou caímos na ilusão de submeter Deus aos nossos caprichos?
Orai sem cessar: “A nós descei, divina Luz!”
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança
Nenhum comentário:
Postar um comentário