Quem
rolará a pedra? (Mc 16,1-7)
Sim, o piedoso José de Arimateia,
depois de envolver o corpo de Jesus em um lençol de linho, selara o túmulo,
rolando à sua entrada uma pesada pedra (cf. Mc 15,46). Na vigília da mesma
noite, as mulheres haviam comprado aromas para embalsamar o corpo de Jesus.
Após o repouso do sábado, logo ao raiar do dia, elas se mexem e rumam para o
túmulo com uma preocupação em mente: “Quem nos rolará a pedra?”
Para sua surpresa, Madalena, Salomé
e Maria, mãe de Tiago, encontram a pedra já removida. O obstáculo já não
existia. Entretanto, no interior da gruta, um anjo com aparência de jovem
informa: “Não está aqui!” Jesus havia ressuscitado.
Sigamos a reflexão do pastor
reformado Jean Valette [1920-1999]:
“Este elemento do ‘maravilhoso’, que
é a presença do anjo, não se destina a embelezar o relato, nem a fornecer uma
prova externa da realidade do acontecimento. Ele tem profunda significação
teológica: com mais sobriedade e verdade que qualquer outro arrazoado – e,
talvez, da única maneira possível -, ele diz que Deus passou por ali, que ele
agiu, que ele introduziu no impossível humano o seu possível e, daí em diante,
já não precisa de aromas.
‘Procurais Jesus de Nazaré, o
crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui.’ Esta palavra do anjo se
dirige sempre a nós. Toda busca de Jesus e de seu ensinamento que faz a
economia da fé na ressurreição, ou que só vê nesta última um símbolo desse
ensinamento, não é mais que a procura por um morto e por uma palavra morta. O
Evangelho só tem verdade e força porque ele é uma pessoa ao mesmo tempo que uma
palavra. Fora dessa pessoa, o Evangelho pode subsistir como doutrina e
religião, mas não mais como poder.
‘Ide dizer a seus discípulos e a
Pedro...’ Por que esta distinção entre Pedro e os discípulos como grupo? A
menção ‘e a Pedro’ está ali, talvez, para atestar que o apóstolo, de quem não
ouvimos mais falar depois de sua negação, não foi jamais desqualificado por ela
e está reinvestido em seu cargo.”
Em poucas palavras, várias lições. É
inútil alimentar preocupações com nossas perfumarias, como é inútil
superestimar as pedras que deveremos rolar em nossa missão. Se a obra é de
Deus, ele mesmo providenciará a remoção dos obstáculos.
Além disso, a Palavra que nos foi
confiada, enquanto Igreja, é muito mais que um texto sagrado repassado até nós
como herança dos antigos. Não é em um livro santo, mas em uma Pessoa divina – o
Filho de Deus – que se encontra o potencial de vida e salvação confiado às
comunidades cristãs.
Enfim, nossas quedas e negações não
nos servirão de pretexto para abandonar a missão que Deus nos entregou. Cristo
vive. A vida continua...
Orai sem cessar: “A tua promessa me faz viver...” (Sl 119,50)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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