E a noite vem chegando... (Lc
24,13-35)
O Evangelho de hoje nos coloca
diante de uma das páginas mais tocantes do Novo Testamento: os discípulos de
Emaús. Cléofas e o anônimo são dois desanimados, derrotados pelas
circunstâncias, esmagados pela notícia da inaceitável morte de seu Mestre. O
dramático desfecho do Calvário sufocava toda esperança. Por isso mesmo, desfeitos
os sonhos, voltavam para a vida velha. Só não contavam com a companhia do
estranho Caminheiro...
Lev Gillet comenta: “Os discípulos
de Emaús estavam perturbados e tristes enquanto se achavam reduzidos aos seus
próprios arrazoados. Quando, porém, o Senhor os substitui e põe-se a explicar
as Escrituras, tudo se torna claro para eles, tudo se pacifica. Aqueles que
arrazoavam e discutiam deixam de fazê-lo. Todas as perplexidades se desvanecem
perante as calmas certezas dadas pelo Mestre.
É assim também conosco... Em certos
momentos, todos nós somos peregrinos de Emaús, caminhando na noite que cai, com
nossas ansiedades, nossas dúvidas, nossas angústias, nossos raciocínios, nossas
discussões internas e mútuas.
E Alguém vem por trás de nós,
junta-se a nós, entra na mistura confusa de nossos sentimentos e de nossas
ideias. E uma grande claridade penetra em nós. Faz-se uma grande paz. Talvez
não reconheçamos a Presença suprema e cheia de vida, mas, tal como os
discípulos de Emaús, pressionando Jesus para que ele não vá adiante, toda a
nossa alma grita para esse desconhecido Poder: “Oh! Não nos deixe ainda! Não vá
embora! Permaneça conosco!”
Então, nosso verdadeiro problema não
era a angústia, mas a solidão. Nosso remédio não era bem a vitória, mas a
Presença. Tampouco era o rumo que nos daria sentido, mas a Companhia.
E como permanecer angustiado naquela
mesa onde o Ressuscitado parte o Pão? Como temer a derrota em sua Presença? Como
prosseguir na rota de fuga quando o Companheiro se assenta conosco? Agora os
seus olhos se abriram. Reconhecem a viva Presença de Cristo em seus gestos
rituais. Uma luz inesperada invade o seu íntimo, afastando as sombras da noite
e as trevas da morte.
Como termina o relato deste
Evangelho? Aqueles dois discípulos fujões – os missionários demissionários – prontamente
se levantaram da mesa e, mesmo em plena noite, retomaram o caminho de
Jerusalém, onde se uniram aos Onze e testemunharam diante da assembleia
reunida. A certeza da Ressurreição vinha devolver ao cenário do Gólgota a sua
verdadeira dimensão.
Seria assim a nossa vida? Desânimo,
derrota, angústia? Será que ainda não nos demos conta da Presença de Jesus em
nossa mesa?
Orai sem cessar: “O Senhor santificou os seus
convidados...” (Sf 1,7)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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