Uma só coisa te
falta... (Mc 10,17-27)
Veio
correndo. Pôs-se de joelhos. Fez uma pergunta. Diante da resposta de Jesus, o
jovem fez uma afirmação ousada: cumpria todos os mandamentos desde a sua
juventude. E era verdade! Por isso mesmo, Jesus o olhou e... o amou!
Jesus
deve ter pensado: Um jovem assim, eu bem o queria entre os meus! Mas leu ainda
mais fundo em seu coração e viu que ele estava apegado a seus bens. Por isso
acrescentou: “Uma só coisa te falta...”
E
a proposta de Jesus (não foi uma ordem!) era a de despojar-se de seus bens.
Vender tudo e distribuir o valor aos pobres. Mas uma nuvem cobriu o rosto do
rapaz, que se retirou cheio de tristeza.
Por
que ficou triste? Pela perspectiva de abrir mão de sua herança? Talvez... Mas
eu tenho outra visão das coisas. O jovem era bom. Muito bom. Sabia que era bom.
E nesse momento, diante de Jesus, recebeu uma nova luz e percebeu, pela
primeira vez, quanto era apegado à terra, rebanhos e tudo mais.
Foi
embora, sim. Mas foi triste. Sou capaz de apostar que aquela tristeza (bendita
tristeza!) continuou a fermentar em seu coração. E foi o suficiente para que
tudo mudasse em sua vida. Cada vez que via seus rebanhos e contemplava os
campos arados, pensava: “Foi isto que me impediu de seguir aquele Mestre
admirável!” E seus olhos nunca mais brilharam diante de suas posses, até que...
Até
que, um dia (posso apostar nisso!), decidiu romper com tudo e fez o que Jesus
havia sugerido. Livre, então, o coração a saltar dentro do peito, possuidor do
maior de todos os tesouros – a liberdade interior – saiu pela estrada e foi
encontrar Jesus...
É
claro que o Evangelho não conta este desfecho. Mas Inácio de Loyola também
ouviu aquele versículo terrível: “De que aproveita ao homem ganhar o mundo
inteiro, se vem a perder a sua alma?” (Mt 16,26.) E Charles de Foucauld trocou
igualmente riqueza e nobreza por um deserto povoado de Deus. E Albert
Schweitzer, o mais famoso intérprete de Bach de seu tempo, deixou os salões de
concerto da Europa para fazer medicina entre os negros do Congo Belga. Aposto
que aquele jovem foi tão esperto quanto eles e trocou suas quinquilharias pelo
tesouro maior!
E
nós? Que coisa vamos acumular em nossa vida?
Orai sem cessar: “Tu és o meu quinhão na terra dos
vivos!” (Sl 142,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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