Os demônios foram para os porcos... (Mt 8,28-34)
Desde que a onda racionalista saltou
elegantemente das academias filosóficas para os institutos de teologia, virou
moda negar a existência de anjos e demônios, logo transferidos para a estante
da mitologia. Digamos a verdade: o tema tornou-se ocasião de risos e piadas.
Com isso, nasceu uma nova “exegese”
da Escritura Sagrada que atribui as referências a demônios ao primitivismo dos
evangelistas e de sua época. Explicam esses doutos racionalistas que os povos antigos
desconheciam os fenômenos parapsicológicos, e mesmo doenças mentais e
neurológicas, a ponto de confundirem alucinações e casos de epilepsia com a
manifestação de “espíritos impuros” [pneumata akathárta, no texto grego],
como são chamados nos Evangelhos.
Ora, enquanto os infelizes que
rolavam pelo chão ou arrebentavam correntes de ferro eram apenas pessoas
humanas, o argumento até que poderia ser justificado. Quando, porém, a
“epilepsia” se transfere aos suínos (sic), desafiando todos os
conhecimentos da mais moderna ciência médica, fica bem difícil encaixar o
fenômeno nos compêndios de parapsicologia, neurologia ou psiquiatria. Pobres
dos porquinhos!
Será que Jesus Cristo – que se
apresenta como “a Verdade” (cf. Jo 14,6) – teria mantido seus contemporâneos na
ignorância em matéria tão grave? Ele ainda falaria de “maus espíritos” ou “demônios”
se aqueles fenômenos se reduzissem simplesmente a desequilíbrios do humano
psiquismo?
Por outro lado, o vocabulário dos
evangelistas distingue claramente as doenças [nóson / astheneía] dos
casos típicos de possessão demoníaca [daimonizômenoi]. Aliás, um é o
verbo para “curar” as doenças [therapêuein, iáomai], outro é o verbo
para “expulsar” demônios [ek-bállo].
Por fim, já não é possível confundir
exorcismos com tratamento médico, quando o próprio Jesus afirma aos 72
discípulos que voltavam, alegres, de sua primeira missão evangelizadora: “Eu vi
Satã cair do céu como um relâmpago”. (Lc 10,18)
Se os docentes de teologia trocassem
suas salas de aula por um estágio nos confessionários ou nas equipes de
aconselhamento, certamente seriam convencidos da existência dos demônios, já
que não lhes basta a audiência dos noticiários da TV...
Orai sem cessar: “Senhor, tu és meu auxílio e meu libertador!” (Sl 70,6b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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