quinta-feira, 6 de agosto de 2015

PALAVRA DE VIDA

Escutai-o! (Mc 9,2-10)
            Deve ter sido apaixonante a experiência de subir ao Tabor com o Mestre, mas teria sido apenas um espetáculo de pirotecnia se a explosão de luz não fosse seguida da obediência. Terá sido consoladora a ideia de erguer três barracas no alto da montanha e ali acampar para sempre, mas o projeto acabaria em rotina se não fosse um tempo de escuta. Pode ser que muita gente ande buscando visões e revelações de Deus, mas talvez sejam poucos os fiéis dispostos a ouvir sua Palavra e pô-la em prática (cf. Mt 7,24).

            Os exegetas entendem – não sem razão – que Jesus escolheu três de seus seguidores mais íntimos para que experimentassem a glória do Tabor antes de passarem pela humilhação do Calvário. Algo que tivesse o efeito de uma “vacina”, imunizando os três apóstolos contra a decepção e o escândalo da cruz.
            De fato, a experiência cristã se situa no espaço entre duas montanhas: uma, elevada na glória das vestes luminosas; a outra, mergulhada no despojamento da nudez absoluta. Não é possível optar por apenas uma delas. Elas se completam. No Tabor e no Calvário, a morte e a vida combatem de modo admirável [mors et vita conflixere mirando], como recorda a sequência da missa da Ressurreição. Na primeira montanha, ouve-se a voz do Pai; na segunda, em sete palavras, a voz do Filho.
            Para aqueles que hesitam em ouvir o Filho, São Leão Magno [395-461] sugere uma exortação vinda do Pai:
            “Escutai-o sem hesitação, pois ele é verdade e vida, ele é minha força e minha sabedoria. Escutai-o, a ele que os mistérios da Lei anunciaram e a voz dos profetas cantou. Escutai-o, a ele que resgata o mundo por seu sangue, que acorrenta o diabo e toma-lhe as armas, que rasga a fatura da dívida e o pacto da prevaricação. Escutai-o, a ele que abre o caminho do céu e que, pelo suplício da cruz, vos prepara os degraus para subirdes ao reino. Por que temeis ser resgatados? Por que, feridos, tendes medo de ser curados? Que se faça o que quer o Cristo, assim como também eu o quero.”
            “Bem-amados – prossegue Leão Magno -, estas coisas não foram ditas apenas para a utilidade daqueles que as ouviram com seus ouvidos, mas nestes três apóstolos, é a Igreja inteira que apreende tudo aquilo que viram seus olhos e captaram com seus ouvidos. A voz do Pai que se fez ouvir deve ressoar sempre à nossa audição: ‘Este é meu Filho bem-amado, no qual eu me comprazo, escutai-o!’ Ele, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.”
            Não deixa de ser curioso que os fiéis seguidores de Jesus Cristo tenham passado seu tempo terrestre preferencialmente na segunda montanha, após breves lampejos da primeira...
Orai sem cessar: “Ouvirei o que diz o Senhor Deus!” (Sl 85,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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