Comprei um campo... (Lc 14,15-24)
Nada de errado em comprar um campo.
Absolutamente. Compra-se um campo para trabalhar a terra, plantar e colher. Com
isso, criamos vagas para os desempregados, produzimos alimentos que matarão a
fome de muitos. Contribuímos para o progresso da sociedade. Mas...
Sim, tudo tem um “mas”. Talvez o tal
campo se transforme na razão última de nossa vida, ocupando-nos de tal modo que
tudo o mais perde valor: amigos, família, o próprio Deus. Neste caso, nosso
campo se mudou em ídolo: cobra de nós além do que seria legítimo, tirando nossa
liberdade e transformando-nos em autênticos escravos.
A parábola de Jesus fala de “coisas
boas” que acabaram por encher o coração humano a tal ponto que, quando veio o
inestimável convite do Senhor, foram usadas como desculpas para recusá-lo.
Desde os profetas antigos, o banquete é símbolo dos tempos messiânicos, quando
nos tornamos convivas na mesa de Deus. No extremo da Escritura, o Apocalipse, o
anjo manda que João anote: “Felizes os convidados ao banquete das núpcias do
Cordeiro!” (Cf. Ap 19,9.) Convidar alguém para sua mesa é gesto que honra o
convidado, além de manifestar evidente desejo de intimidade.
A parábola mostra duas “fases”: a
recusa dos escolhidos e sua troca pelos desclassificados. Nos dois grupos, os
Padres da Igreja viram respectivamente os judeus daquele tempo (o Povo
escolhido) e os gentios (os que não eram povo), aos quais o Evangelho foi
pregado quando os primeiros se recusaram a ouvi-lo.
Os hebreus eram a menina dos olhos
do Senhor: para eles concedera “a adoção e a glória, as alianças e a Lei, o
culto e as promessas” (cf. Rm 9,4). No entanto, quando veio o Messias, não o
reconheceram, mas o condenaram à cruz. À primeira vista, tinham muito a perder
ao aceitar o convite. Era preciso abrir mão de enorme tesouro que parecia
ameaçado pela novidade de Cristo.
Não é diferente conosco. Quando o
Senhor nos chama, é possível que nos deixemos iludir – especialmente os mais
jovens - por uma sensação de perda: “Que é que Deus vai tomar de mim?” Como se
ele não fosse o Senhor de tudo e nada lhe faltasse... Ao abraçar a Irmã
Pobreza, Francisco de Assis abraçava a liberdade. Livre, nada mais seria
obstáculo entre ele e o Cristo que lhe passava suas chagas.
Alguma
coisa nos prende e nos faz recusar o convite do Senhor?
Orai sem cessar: “O Senhor consagra seus
convidados.” (Sf 1,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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