Esbanjar
os bens...
(Lc 16,1-8)
Foi esta a acusação que levou o
gerente a ser demitido pelo Proprietário das terras: esbanjar os bens.
Realmente, isto não se faz!
Quando o Dono das terras admite
um gerente, inicia uma relação de mútua confiança. Por um lado, o Senhor das
propriedades espera por algum retorno e confia que a atuação do gerente levará
a terra a produzir o ouro do trigo e o sangue vivo das videiras. Por outra
parte, o gerente merece o salário combinado e, possivelmente, uma participação
nos lucros de seu Patrão.
Sei que não estou no foco da parábola
contada por Jesus e registrada por São Lucas, que era bem outro: para tomar
posse das coisas de Deus, os filhos da luz deveriam dedicar a mesma astúcia e o
mesmo empenho que os filhos do mundo dedicam às posses materiais. Esta era a
lição central que o Mestre nos passava.
Mas vou prosseguir no rumo
inicial: não se pode impunemente esbanjar os bens que nos foram confiados. E
isto inclui, por certo, os dons da Criação. Em sua recente Encíclica sobre as
questões ambientais, que tem como título as palavras de um poema de Francisco
de Assis – Laudato Si’ -, o Papa do
mesmo nome escreve:
“Esta irmã [nossa
casa comum, o planeta Terra] clama contra o mal que lhe provocamos por causa do
uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar
que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A
violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos
sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por
isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra
oprimida e devastada, que ‘geme e sofre as dores do parto’ (Rm 8,22).
Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2,7). O nosso corpo é
constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua
água vivifica-nos e restaura-nos.” (Laudato
Si’, 2)
Estas palavras do Papa nos ajudam a
tomar consciência de que estamos imersos em um processo iniciado já na Idade
Média, e que podemos chamar de expansão capitalista. Movidos pelo lucro, os
homens consideraram os dons do Criador – o Proprietário / Dono / Patrão – como
reles matéria-prima logo transformada em mercadoria. Uma sociedade mercantil
tende a cometer esta degradação dos dons divinos: nada mais que matérias,
substâncias e objetos para comprar, vender e acumular.
Na prática, esta realidade faz de
nós sérios devedores. Estamos sujeitos a uma grave cobrança: “Presta contas de
tua administração!” (Lc 16,2) Não seria a hora de convocar os outros devedores e realizar uma
boa partilha de tudo o que acumulamos indevidamente?
Orai sem cessar: “Abres a mão, Senhor, e todos se
saciam de bens!” (Sl 104,28)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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