Semelhante a crianças... (Mt 11,16-19)
Na Bíblia, a mesma
imagem pode ter valor positivo ou negativo. É o caso do “fermento” – em geral,
com valor negativo (Ex 12,15; Mt 16,6), conotando corrupção e pecado, mas
também usado por Jesus como imagem do Reino de Deus que cresce em silêncio, sem
sinais exteriores (cf. Mt 13,33).
No Evangelho de hoje,
são as crianças – que Jesus apontara como ideal a ser imitado (cf. Mc 10,15; Lc
10,21) – a imagem dos discípulos imaturos que vivem entre queixas e
reclamações, tal como os judeus do tempo de Jesus, que recusavam ao mesmo tempo
o Batista, por sua vida sóbria e ascética, e a Jesus de Nazaré, por gostar de
uma boa mesa e de um bom vinho.
Ainda hoje, nas
paróquias e comunidades, há muitas “crianças” eternamente insatisfeitas.
Criticam o padre que celebra a missa muito depressa, mas reclamam do outro que
faz a missa comprida. Fazem críticas se o padre não prega, manifestam seu
desagrado se a homilia se estende. Se o coordenador é exigente, brotam queixas;
se ele é democrático, cobram mais rigidez. Crianças insatisfeitas...
Os santos não são
assim. Os santos são muito realistas. Partem da realidade que lhes é dada e se
dedicam de alma e coração a cumprir a missão inadiável. Eles não pensam na
Igreja ou em sua comunidade como um lugar onde se recebem favores e regalias.
Sabem que sua tarefa consiste em imitar a Jesus, que lavou os pés de seus
apóstolos. Mesmo que sejam elevados a posições de mando, eles entendem sua
autoridade como um serviço aos irmãos.
As crianças querem
afagos, elogios, atenções especiais. Se isso falta, emburram, amarram a tromba
e iniciam sua ação deletéria, feita de críticas, acusações, formação de
partidos. Se um desses imaturos acaba em posição de governança, será a vez de
reclamar da má qualidade de seus governados, além de abusar do poder e da
autoridade.
Os imaturos são
eternos insatisfeitos. Jamais serão felizes. E semearão à sua volta uma
enxurrada de amargura. Pior ainda: verão passar em vão a graça de Deus e
acabarão perdendo o bonde da história. Foi assim no tempo de Jesus. Continua
assim em nossos tempos.
Quando atingiremos a
estatura do homem perfeito? (Cf. Ef 4,13.) Quando deixaremos de lado nossas
mamadeiras? (Cf. Hb 5,12.) Quando assumiremos a missão que Deus colocou em
nossas mãos?
Orai sem cessar: “Eis que vim para fazer
a tua vontade!” (Hb 10,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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