Guardava todas as coisas... (Lc 2,16-21)
Há duas
maneiras de olhar: para fora, para dentro. Estamos escravizados à primeira
delas. Com esse olhar “extrovertido”, veremos apenas os pastores de Belém, os
detalhes da gruta, o boi e o burro dos presépios infantis. Nossos olhar,
viciado pela TV, perdeu a capacidade de olhar “para dentro”.
A Mãe de
Jesus é uma exceção. Maria vê, sem dúvida, os eventos históricos, mas seu olhar
se dirige para o interior. Como anotou São Lucas, “Maria guardava todas essas
coisas, meditando-as em seu coração”. Não é sem motivo que a Igreja abre o ano
litúrgico com esse olhar mariano.
Sim, diante
das maravilhas de Deus, não podemos nos limitar ao evento, deixando de lado o
seu sentido. O cinema explora a visão “para fora”: uma arca sobre o dilúvio,
trovões no Sinai, o Mar Vermelho cortado ao meio, a ferida na fronte de Golias.
Maria, tão diferente, se recolhe e se interroga: “Que nos fala o Senhor a
partir de tudo isto?”
O teólogo
Hans Urs von Balthasar nos convida a contemplar Maria. “As palavras simples do
Evangelho, repetidas por duas vezes (Lc 2,19.51), sobre Maria guardar tudo em
seu coração e meditar, mostram que ela é para toda a Igreja o vaso inesgotável
da lembrança e da elucidação. Ele conhece na profundidade máxima todos os
eventos e todas as festas do tempo litúrgico que celebramos através de todo o
ano.
É também
este o sentido da oração e do Rosário: é com os olhos e o coração de Maria que
devemos contemplar e venerar os mistérios de Cristo, para compreendê-los em
profundidade, tanto quanto nos é possível. A veneração e a festa do coração de
Maria nada têm de sentimental, mas conduz a essa fonte inesgotável da
compreensão de todos os mistérios salvíficos de Deus, que interessam ao mundo
inteiro e a cada um de nós em particular.
Situar o ano
sob a proteção dessa maternidade significa, enquanto irmãos e irmãs de Jesus e,
assim, enquanto filhos de Maria, implorar dela uma constante compreensão para
uma caminhada constante no seguimento de Jesus. Tal como a Igreja, da qual
Maria é a célula primitiva, ela nos abençoa, não em seu próprio nome, mas em
nome de seu Filho, o qual nos abençoa pessoalmente em nome do Pai e no Espírito
Santo.”
Contemplar,
guardar no coração, meditar o sentido profundo dos acontecimentos. Um belo
programa a realizar este ano, sob o manto de Maria!
Orai sem cessar: “Conservo no coração tuas
palavras!” (Sl 119,11)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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