domingo, 17 de janeiro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Até a borda... (Jo 2,1-11)
            Aprendemos com os latinos uma lição discutível: “in medio virtus” [a virtude está no meio]. Devia ser uma exortação em favor da prudência e do comedimento. Pois este Evangelho vem desmentir a lição...

            Ao receberem a tarefa de encher de água as seis bacias de pedra, capazes de conter no mínimo 600 litros, os servidores de Caná (no texto grego, os “diáconos”) não mediram esforços: “E eles encheram até a borda”.
            Sempre fico admirado com a sobriedade dos Evangelhos. O narrador nunca enfeita a cena, não doura a pílula, não procura seduzir o leitor. Apenas constata: “encheram até a borda”. Na Vulgata de São Jerônimo, “ad summum”, isto é, até o ponto mais alto.
            No caso das bodas de Caná, os serventes tinham tudo para recusar a ordem recebida. Não eram empregados. Não ganhavam nada com aquilo. A tarefa era pesada e demorada. Jesus não era o dono da festa (ao menos até agora...).
            Apesar de tudo isso, acolheram a palavra e obedeceram à proposta de Maria: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Parece até que fica mais fácil obedecer quando a ordem vem da Mulher amável, graciosa, agraciada, irradiante de paz...
            Vale a pena percorrer os Evangelhos com a atenção fixa nas pessoas a quem Jesus se dirige e elas... obedecem. A leitura atenta chamará nossa atenção para o aparente absurdo dessa obediência. Vale lembrar a cena em que pescadores experientes haviam pescado, em vão, durante uma noite inteira. Aí, o aprendiz de carpinteiro diz a eles: “Lancem a rede à direita e acharão peixe”. Eles obedecem!!! E acham os peixes...
            No caso dos serventes de Caná, é admirável não só a prontidão em obedecer, mas a falta de limites na obediência: “até a borda”. Enquanto houve espaço, continuaram sua faina, sem esmorecer. Não é uma lição para nós?
            Como temos obedecido aos mandamentos? Com limites e reservas? Como temos cumprido nossa missão? Até o limite do conforto e da conveniência? Como temos dedicado nossa vida a servir? Desde que não prejudique nossas comodidades?
            Ah! O amor não tem limites! O apaixonado não dorme, não tem medidas, não faz contabilidades... Um deles – o maior de todos – amou até o fim, até a cruz. E nosso amor terá limites?
Orai sem cessar: “Eu te dou graças, Senhor, de todo o coração!” (Sl 138,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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