Seguiam com medo... (Mc 10,32-45)
Pessoalmente,
sinto-me consolado ao ler no Evangelho de Marcos, secretário do Papa Pedro, que
os discípulos eram dominados pelo medo ao se aproximarem de Jerusalém, onde,
segundo prenunciava o Mestre, a oposição a Jesus chegaria a seu clímax:
condenação, tortura e morte!
Afinal
de contas, os discípulos haviam convivido com seu Mestre por quase três anos.
Presenciaram seus milagres, a tempestade serenada, o leproso purificado, o
morto ressuscitado. Depois de toda essa preparação, não era de esperar que
estivessem dispostos a tudo?
Ledo
engano. Nossa humanidade frágil é a mesma em todo tempo e lugar. Toda vez que o
seguimento de Jesus significa para nós algum tipo de risco, voltamos a nos
preocupar com a própria segurança. Toda vez que os apupos inesperados
substituem os aplausos tão desejados, nós reexaminamos nossa entrega inicial.
Sempre que a fé aponta para a possibilidade do martírio, pensamos na apostasia.
Somos do mesmo barro que nosso pai Adão...
De
fato, os companheiros de Jesus ainda estavam olhando para outra direção.
Pensavam no Reino que o Mestre iria estabelecer e, naturalmente, nos
ministérios que caberiam a cada um deles. Estavam prontos a sentar-se “à direita
e à esquerda” (cf. Mc 10,37), mas nada dispostos a abraçar a cruz...
Só
após Pentecostes esses homens simples e um tanto abrutalhados – fiéis
fabricados a canivete! – entenderiam a afirmação de que Jesus tinha vindo para
servir e dar a sua vida para nossa redenção. Antes de serem inundados pelo
Espírito Santo, seus projetos e ideais permaneceriam contagiados por
expectativas humanas, sonhos de grandeza, busca de compensações.
No
entanto, a História registra a profunda mudança neles operada pelo fogo de
Pentecostes: os covardes tornam-se ousados, os preguiçosos atravessam os
oceanos, os sonhadores arregaçam as mangas e dão a vida pela Boa Nova. Nenhuma
distância impede sua marcha. Nenhuma ameaça amordaça sua boca. Nenhum prêmio
material pode afastá-los da coroa eterna. Feras do Coliseu, a espada do
carrasco, as cruzes e as minas de metal, nada arrefece o seu amor.
E
nós? Já fomos abrasados pelo Espírito de Pentecostes?
Orai sem cessar: “Entramos
no fogo e na água,
mas nos fizeste sair para um banquete.” (Sl 66,12b)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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