Movido de compaixão... (Lc 10,25-37)
Em pleno Jubileu da Misericórdia, a
parábola do “Bom Samaritano” resume a mensagem central que o Papa Francisco nos
apresentou como um desafio de máxima atualidade. Como ele nos recorda, “a
mentalidade contemporânea, talvez mais que a do homem do passado, parece
opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a
tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra e o conceito
de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme
desenvolvimento da ciência e da técnica nunca antes verificado na história, se
tornou senhor da terra, a subjugou e a dominou (cf. Gn 1,28)”. (Misericordiae Vultus)
O Evangelho de hoje nos traz a
resposta de Jesus à pergunta: “Quem é o meu próximo?” E a resposta vem na
atitude do samaritano que cuida do inimigo judeu: meu próximo é aquela pessoa
de quem eu me aproximo. Sou eu que faço o meu próximo.
Um rápido olhar sobre o mundo de
hoje revela uma multidão de abandonados, uma legião de feridos em todos os
quadrantes: migrantes deslocados à força, pessoas perseguidas por sua fé
religiosa, populações famintas, doentes sem assistência médica, crianças sem
escola. Essa multidão se identifica com a figura do homem caído, meio morto, na
estrada de Jericó.
Essa multidão constitui um autêntico
“grito” da humanidade à espera de alguém que se aproxime e estenda a mão.
Talvez pareça mais cômodo atravessar para o outro lado da estrada e seguir o
próprio caminho, indiferente a esse grito, se é que a consciência não nos acusa
por nossa insensibilidade.
A alternativa – aquela impelida pelo
amor – é a a/proximação. Um movimento
de saída de si mesmo na direção do outro. É este movimento que nos humaniza e
abre novos horizontes para um mundo de paz. Ao contrário, nossa recusa à
aproximação traz como efeitos a petrificação da alma, a mumificação do coração,
o fechamento à vida.
Afinal, mais dia, menos dia, posso
ser eu mesmo o homem ferido à beirado caminho. E eu gostaria que alguém se
aproximasse de mim e cuidasse de minhas feridas.
Jesus Cristo – o verdadeiro
samaritano – não ficou indiferente à nossa situação. Compadecido da humanidade
em trevas, desceu do Pai e veio a nós. Nossa vida foi recuperada por ele ao
preço de seu sangue...
Orai sem cessar: “Não devias também tu ter compaixão?” (Mt 18,33)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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