domingo, 31 de julho de 2016

PALAVRA DE VIDA

 A vida não consiste na abundância... (Lc 12,13-21)

            Aqui e ali, surgem pregadores animando os mais pobres a tomarem os bens dos mais ricos, a título de justiça social. Claro, eles não levam em conta que, ao se apossarem dos bens dos ricos, será a vez de os ex-pobres se tornarem alvos de nova “revolução”. E o ciclo do ódio vai adiante...

            A parábola narrada por Jesus neste Evangelho foi motivada exatamente pela queixa de alguém que sofria injustiça de seu próprio irmão mais velho. E Jesus prontamente alerta o injustiçado sobre o perigo da ganância, do apego aos bens materiais.
            A verdadeira vida do homem não está nas riquezas. O monge cisterciense André Louf comenta: “As riquezas daqui de baixo, a morte as ameaça sem cessar. Já em seu interior, elas são corroídas, minadas pela morte. E exteriormente, na medida em que o homem avança em idade, a sombra da morte se projeta sobre elas. E o homem que se apega a suas riquezas, que nelas se enraíza e nelas se envolve, abraça desde já a morte que elas carregam: ele recebe delas um gosto de morte em sua boca e em seu coração. Pois ali onde está o teu tesouro, lá está teu coração, tanto faz se somos ‘pobres’ ou somos ‘ricos’.”
            A verdadeira vida do homem está em outro lugar – prossegue André Louf. “Não se trata de ajuntar para si mesmo, egoisticamente, mas de ser rico em Deus. É para outra abundância, para outras riquezas, para uma outra vida que Jesus orienta o olhar de seu discípulo: ser rico em Deus, um tesouro que o tempo não ameaça, que o verme não rói, que o ladrão não rouba. Uma vida que sobrevive à morte visível, que transborda este tempo daqui e que, neste mesmo instante, já é vida eterna.”
            Daí a “loucura” daquele que vê a colheita superar as expectativas e sua capacidade de armazenamento e, sem sequer pensar na possibilidade de partilhar com os necessitados, toma a decisão tresloucada: “Vou derrubar meus celeiros, tão pequenos para tantos grãos, e construir outros armazéns ainda maiores!”
            Uma vez, ao pregar sobre os desafios atuais do cristianismo, lembrei a necessidade de uma vida sóbria e simples. Ao final, um dos presentes (era um curso de teologia para leigos), sem esconder seu mal-estar, afirmou: “Não vejo nenhum mal em acumular riquezas”. Como é duro o Evangelho de Jesus Cristo!
Orai sem cessar: “O Senhor é a minha parte da herança!” (Sl 16,5)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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