A vida não consiste na abundância... (Lc 12,13-21)
Aqui e ali, surgem pregadores animando
os mais pobres a tomarem os bens dos mais ricos, a título de justiça social.
Claro, eles não levam em conta que, ao se apossarem dos bens dos ricos, será a
vez de os ex-pobres se tornarem alvos de nova “revolução”. E o ciclo do ódio
vai adiante...
A parábola narrada por Jesus neste
Evangelho foi motivada exatamente pela queixa de alguém que sofria injustiça de
seu próprio irmão mais velho. E Jesus prontamente alerta o injustiçado sobre o
perigo da ganância, do apego aos bens materiais.
A verdadeira vida do homem não está
nas riquezas. O monge cisterciense André Louf comenta: “As riquezas daqui de
baixo, a morte as ameaça sem cessar. Já em seu interior, elas são corroídas,
minadas pela morte. E exteriormente, na medida em que o homem avança em idade,
a sombra da morte se projeta sobre elas. E o homem que se apega a suas
riquezas, que nelas se enraíza e nelas se envolve, abraça desde já a morte que
elas carregam: ele recebe delas um gosto de morte em sua boca e em seu coração.
Pois ali onde está o teu tesouro, lá está teu coração, tanto faz se somos
‘pobres’ ou somos ‘ricos’.”
A verdadeira vida do homem está em
outro lugar – prossegue André Louf. “Não se trata de ajuntar para si mesmo,
egoisticamente, mas de ser rico em Deus. É para outra abundância, para outras
riquezas, para uma outra vida que Jesus orienta o olhar de seu discípulo: ser
rico em Deus, um tesouro que o tempo não ameaça, que o verme não rói, que o
ladrão não rouba. Uma vida que sobrevive à morte visível, que transborda este
tempo daqui e que, neste mesmo instante, já é vida eterna.”
Daí a “loucura” daquele que vê a
colheita superar as expectativas e sua capacidade de armazenamento e, sem
sequer pensar na possibilidade de partilhar com os necessitados, toma a decisão
tresloucada: “Vou derrubar meus celeiros, tão pequenos para tantos grãos, e
construir outros armazéns ainda maiores!”
Uma vez, ao pregar sobre os desafios
atuais do cristianismo, lembrei a necessidade de uma vida sóbria e simples. Ao
final, um dos presentes (era um curso de teologia para leigos), sem esconder
seu mal-estar, afirmou: “Não vejo nenhum mal em acumular riquezas”. Como é duro
o Evangelho de Jesus Cristo!
Orai sem
cessar: “O Senhor é a minha parte da herança!”
(Sl 16,5)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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