Quem vos ouve, a mim ouve... (Lc
10,13-16)
Nós sabemos
que a Igreja é o Corpo de Cristo. O ensinamento paulino não deixa nenhuma
dúvida a este respeito. Neste “corpo”, Cristo é a cabeça; nós, os membros. (Cf.
Rm 12,4-5; 1Cor 12,12ss; Ef 5,30; Cl 1,18.)
Por isso
mesmo, Cristo e sua Igreja são inseparáveis, vivem em simbiose, uma vida comum.
São Cirilo de Jerusalém observa que nós, ao participarmos da Santíssima
Eucaristia, alimentando-nos com o Corpo e o Sangue de Cristo, nos tornamos com
ele um só corpo (sýssomos) e um só sangue (sýnaimos).
E São João
Crisóstomo ouve dizer-lhe o Cristo: “Desci novamente à terra, não só para me
misturar com os da tua gente, mas também para te abraçar: deixo-me comer por ti
e deixo-me partir em pequenos pedaços, para que a nossa união e amálgama sejam
verdadeiramente perfeitas. De fato, enquanto os seres que se unem mantêm
perfeitamente distinta a sua individualidade, Eu, invés, formo uma unidade
contigo. Aliás, não quero que nada se meta entre nós; só quero o seguinte: que
ambos formemos uma só coisa”.
Além dessa
união individual com cada fiel, cada batizado, Jesus Cristo está unido a toda a
Igreja. O Espírito Santo, dado à Igreja em Pentecostes, é o mesmo Espírito de
Jesus, que ele, na cruz, entrega ao Pai: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu
Espírito”. (Lc 23,46.) O Espírito Santo é o “outro Consolador” (cf. Jo 14,16)
que Jesus prometera pedir ao Pai.
Quando a
sociedade humana olha para a Igreja como se ela fosse apenas uma organização
jurídica, administrativa e hierárquica, ignora sua realidade mística, isto é,
sua profunda identidade com o próprio Senhor. Fixam seu olhar desatento apenas
nas aparências externas, deixando de perceber a vida de Deus que pulsa na
Igreja, sua profunda unidade com Cristo.
Se tivessem
noção dessa in-corporação, certamente aceitariam que Deus fala pela boca da
Igreja, mesmo quando esta, com base no Evangelho, parece emitir conceitos e
sugerir princípios éticos para o tratamento de questões estranhas à sua
natureza íntima, como quando analisa problemas sociais, ambientais e econômicos.
Há muita
gente falando mal da Igreja, como se ela fosse apenas uma sociedade humana, um
clube de religiosos. No fundo, ainda se ouve a voz do Senhor: “Quem vos ouve, a
mim ouve. Quem vos rejeita, é a mim que rejeita. Quem me rejeita, rejeita o
Pai, que me enviou.” (Lc 10,16)
Orai sem cessar: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em
mim.” (Gl 2,20)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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