domingo, 4 de setembro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Odiar o pai... (Lc 14,25-33)
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O leitor se espanta? Pois faz muito bem! Ouvir da boca de Jesus que “odiar o pai e a mãe” é condição para o seguir, não pode deixar de causar algum escândalo... Ainda mais que somos ocidentais e nem sempre lemos as palavras ditas por um oriental com os matizes próprios de sua visão de mundo. Pode ajudar um pouco – e temperar nosso escândalo - se levarmos em consideração que os idiomas do tronco semita (hebraico, aramaico etc.) não possuíam o nosso grau comparativo, que lhes permitisse uma construção frasal do tipo: “amar o pai menos que a mim” ou “amar a mim mais do que à própria mãe”. Assim, na ausência do comparativo, o recurso era contrastar amar X odiar.
Mesmo sem maiores conhecimentos de linguística, bastava o bom senso para iluminar a questão. Este Jesus que nos fala é o mesmo que ensinou: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. É o mesmo Jesus que nos garantiu que a antiga Lei não estava abolida, e a Lei mosaica ordenava peremptoriamente: “Honrarás teu pai e tua mãe!” Logo, o Mestre da Galileia não mandaria ninguém odiar pai nem mãe...
Ajuda ainda mais se levarmos em conta que, para seguir sua missão, Jesus de Nazaré “abandonou” sua mãe viúva e lançou-se pelas estradas empoeiradas da Palestina a anunciar o Reino e pregar a conversão dos corações. Não é uma forma de “odiar”? Deixar atrás a Mãe tão amada para cumprir a vontade de Deus? Calar os afetos mais íntimos para deixar que fale uma missão intransferível? Não é o que fizeram tantos homens e mulheres de vida consagrada, tantos santos e missionários de todas as épocas?
E se alguém ainda se escandaliza, talvez seja a hora exata de lembrar que todos nós deixamos nossos pais para nos casar e formar o nosso próprio lar. E que muita gente cheia de afetos e carinhos abandona a família e vai para o outro lado do planeta só para progredir na carreira profissional e garantir mais uns caraminguás em sua conta bancária. Só que, desta vez, como se trata de money, ninguém protesta...
Sim, amigos, o cristianismo tem uma cruz bem no centro. A mensagem do Evangelho é claramente incompatível com apegos de todo tipo – afetivos, materiais e financeiros. O caminho do Calvário é um contínuo despojamento: à margem da estrada vão ficando todas aquelas coisas e pessoas que nos pareciam indispensáveis a nosso equilíbrio e segurança.
Orai sem cessar: “Mesmo que a mãe esquecesse o filho,
                              eu não te esqueceria nunca!” (Is 49,15)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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