Debaixo das asas... (Lc 13,31-35)
Este é um Evangelho pungente, a revelar-nos a profunda
sensibilidade humana do Filho de Deus que nascera de Mulher. Jesus antevê a
ruína e a desolação que virão sobre a Cidade Santa e lamenta sua recusa em
acolher o Enviado do Pai.
Mais uma vez, Jesus vem utilizar imagens simples, coisas
do cotidiano, para expressar sua visão das coisas. Desta vez, para expressar
seus cuidados com o povo de Israel, o seu afeto por Jerusalém, ele se compara a
uma galinha que chocou seus pintainhos e, zelosa e atenta, envolve-os na
proteção de suas asas.
A imagem das asas divinas estendidas sobre o Povo
Escolhido reaparece aqui e ali na Escritura Sagrada. O “Cântico de Moisés” (Dt
32) fala da atitude de Deus para com seu povo: “Qual águia que desperta a
ninhada, esvoaçando sobre os filhotes, também o Senhor estendeu suas asas e o
apanhou, e sobre suas penas o carregou”.
O salmista retoma a mesma imagem: “Os homens se refugiam
à sombra de tuas asas”. (Sl 36,8b) E ainda: “Vou morar na tua tenda para
sempre, à sombra de tuas asas encontrar abrigo!” (Sl 61,5) E o profeta o repete:
“Mas para vós que tendes o meu temor, o sol da justiça há de nascer, trazendo o
alívio em suas asas!” (Ml 3,20)
Jesus não fala de águias nem de outras aves nobres,
conhecidas pela força, pela agressividade. Humilde e manso, Jesus prefere a
figura das galinhas, mães excelentes, notáveis protetoras. É a sua maneira de
manifestar ternura e aconchego. De sugerir aproximação a todos nós.
Lev Gillet publicou um pequeno livro – “Amour sans Limites” - em que ele imagina
Jesus Cristo que se dirige ao leitor com palavras da mais terna intimidade. E
ele nos convida: “Meu filho, no começo existiu – e existe sempre – um Coração,
um Coração que não cessou de bater pelos homens, de pulsar por ti. Queres
dar-me teu coração?”
E se adianta ainda mais: “Dá-me teu coração. Meu filho, é
o universo inteiro que assim grita para ti. É todo o sofrimento humano, toda a
humana abertura de boa vontade, todos os espasmos humanos que têm necessidade
de que tu compreendas e intercedas, por mais indigno que sejas. Não ouves este
grito?”
Orai sem cessar:
“Senhor,
eu me abrigo à sombra de tuas asas!” (Sl 57,2)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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