No último lugar... (Lc 14,1.7-11)
A lição de Jesus não poderia ser mais clara: o Reino de
Deus é franqueado aos últimos. O último lugar da fila é a garantia da entrada
pela porta estreita. Nada parecido com nossa mentalidade de produção e
eficiência...
Na verdade, para sermos exatos, o último lugar está
definitivamente vedado a todos nós, porque ele já foi ocupado antes: e é Jesus
que o ocupa para sempre, observava Charles de Foucauld. Ao abrir mão de suas
divinas regalias, assumindo nossa carne mortal, baixando ao nível de um
escravo, sofrendo as ignomínias da Paixão, Jesus se fez o último de todos.
Nas palavras de André Louf, “a vida e a morte de Jesus
foram desempenhadas no último lugar. Desde seu nascimento, passando por seu
batismo e a tríplice tentação, até sua morte, Jesus assume a contramão de toda
pompa messiânica com a qual os judeus de seu tempo podiam sonhar, para
mergulhar em um rebaixamento onde sua glória só é visível aos que creem”.
Prossegue o mesmo autor: “A Igreja que caminha
amorosamente aqui em baixo, sobre as pegadas de seu Esposo, não ambiciona por
outro lugar neste mundo, a não ser o lugar ocupado e pregado por Jesus: o
último. Da mesma forma, o discípulo de Jesus. Seus sucessos aqui em baixo,
quantificáveis em ordem de grandeza, são apenas provisórios e aparentes.
O verdadeiro triunfo do discípulo não está na medida
deste tempo, nem de sua história. Ele está além, no Reino, e só poderá ser
verificado quando for aberta a porta estreita, e o último lugar recebido com
exultação e ação de graças, ao lado de Jesus.
É assim que a Igreja, e nela todo fiel, permanece
pacificamente inquieta por esse último lugar que lhe cabe aqui em baixo. Ela
espera por ele e, quando o experimenta, ali se demora e a ele se apega pra
valer. Ali, pelo menos, ela está certa de estar com Jesus, de permanecer em seu
amor e de agir poderosamente para que o mundo aqui de baixo passe para o Reino.
É aos pobres e estropiados, aos coxos e aos cegos que
Jesus se dirige - ele acaba de nos lembrar isto. A todos aqueles que são
verdadeiramente os últimos, os que não têm como exercer sua caridade para com
ele e, por este motivo, são os primeiros em seu Amor.”
Devia ser fácil de entender, não? Quem nada tem para dar,
está pronto para receber...
Orai sem cessar:
“O Senhor
eleva os humildes...” (Sl 147,6)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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