Não quero... (Mt 21,28-32)
Grande mistério é a liberdade
humana! Quando o Gênesis anota que Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança, fica subentendido que a criatura foi dotada de liberdade. Um Deus
infinitamente livre não criaria escravos nem robôs... Mesmo correndo o risco de
ser rejeitado por sua criatura...
É exatamente esta liberdade, a
capacidade de escolha, que traça a linha divisória entre a pessoa humana e os
demais seres regidos por determinismos, desde os minerais submetidos às leis da
física até os animais dominados por instintos. Em suma, ser humano é ser capaz
do sim e do não.
Na parábola deste Evangelho, dois
filhos são convocados pelo pai a trabalharem na colheita da uva. O primeiro se
nega: “Não quero!” Depois, porém, repensou e acabou assumindo a tarefa. Qual
teria sido a motivação de sua mudança? Medo de algum castigo ou represália? Preocupação
com a própria imagem diante dos outros? Ou seria por amor ao pai?
O fato é que ele refletiu,
avaliou que sua negativa não era a resposta adequada e decidiu mudar de
atitude. É isto que podemos chamar de “conversão”. Depois de passar pelo erro,
por escolhas de qualidade inferior – por pecados, diz a moral cristã – o filho
age como filho. E obedece...
Este filho é a imagem de muitos
pecadores do tempo de Jesus, na figura de “publicanos e prostitutas”, isto é,
pessoas que viviam à margem da Lei mosaica, mas acabaram por fazer um ato de fé
e aderir a Jesus Cristo.
Sim, há um segundo filho: o que
disse “sim, senhor”, mas não foi. Este outro encarna a figura das lideranças
religiosas daquele tempo – anciãos e sacerdotes -, que pareciam fiéis e
obedientes a Deus, mas se recusaram a acolher o Messias enviado por Deus.
Diziam sim, mas viviam não...
Um olhar atento logo saberá
associar a liberdade e o amor. Para um filho, a obediência não é pesada quando
ele se sente amado pelos pais. Ao dizer sim, o filho responde ao amor com amor.
Pelo mesmo motivo, na cerimônia do casamento, quando os noivos celebram uma
união para a vida, bem no centro do sacramento encontra-se um “sim”, sem o qual
a união seria nula pela raiz. O amor humano é o mais elevado exercício da
liberdade.
Já dissemos não tantas vezes! Por
que não mudar de vida?
Orai sem
cessar: “Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade!” (Hb 10,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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