Viu e acreditou...
(Jo 20,2-28)
Os
ícones orientais da Ressurreição (em grego, anástasis) de Cristo
mostram o túmulo vazio e a pedra rolada. Mas um detalhe chama nossa atenção: as
bandagens (em grego, tà othónia) que haviam envolvido o corpo de Jesus, não
foram desmanchadas nem dobradas, como dizem algumas traduções, mas se mostravam
frouxas, estendidas (em grego, keimena). No ícone bizantino, vê-se claramente um
casulo vazio, de onde voara a borboleta de volta à Vida. O Cristo Senhor
ressuscita sem desmanchar seu invólucro de linho, mirra e aloés!
Foi
isto que João viu e... acreditou. Doravante, os apóstolos pregarão: Não podemos
calar o que vimos e ouvimos.” (At 4,20.) “O que vimos com nossos olhos... nós
vo-lo anunciamos...” (1Jo 1,1.3.) A simples visão do túmulo vazio não bastaria
para levar à convicção da ressurreição de Cristo. Mas a evidência de que Jesus
passara através das bandagens sem as desmanchar, deu-lhes a certeza que ainda
lhes faltava. Neste Evangelho, vão lado a lado Pedro e João, a instituição e o
carisma. João, bem mais jovem, corre mais rápido e chega primeiro. Mas não
entra, reconhecendo a precedência de Simão Pedro, que Jesus havia postado à
frente dos Doze.
E é de João – autor deste texto
– o ato de fé, que brota do “insight” despertado pela visão das bandagens
acamadas no solo, tornadas sólidas e firmes pelos aromas (cem libras: mais ou
menos 30kg!) trazidos por Nicodemos para o embalsamamento de Cristo. Uma frase
de Jesus – “Bem-aventurados os que não viram e, contudo, creram” (Jo 20,29) –
tem sido insistentemente usada por aqueles que apregoam uma fé quimicamente
pura, fé que dispensa sinais e milagres. Ora, se esses sinais que falam à visão
e aos outros sentidos fossem inúteis, o próprio Senhor não teria devolvido a
vista aos cegos nem ressuscitado Lázaro.
Deus
sabe que somos humanos e, às vezes, hesitantes na fé, acabamos dependentes de
sinais. Por isso mesmo, entre santos e entre pecadores, Ele sinaliza sem
reservas, com demonstrações de seu poder e de seu amor. Se os racionalistas
torcem o nariz para os milagres, tanto pior para eles! Enquanto isso, na
esteira de João e Pedro, que não deram ouro nem prata ao aleijado da Porta
Formosa, mas lhe devolveram a capacidade de caminhar, o povo simples aceita com
alegria todos os milagres que Deus dá. Tanto melhor para eles...
Orai sem cessar: “Vem em socorro à minha falta de fé!” (Mc 9,24)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário