Um grande banquete... (Lc 5,27-32)
A
Sagrada Escritura fala mais de banquetes que de jejuns. Lá está Abraão
preparando um festim para os Três Visitantes. E a mesa farta que Lot oferece
aos dois anjos visitantes. Ou o banquete oferecido pela Rainha Ester para a
ruína do odioso Haman. A Ceia em que Jesus institui a Eucaristia. E o banquete
do fim dos tempos, quando o Senhor, toalha na cintura, servirá pessoalmente a
seus eleitos...
Bom sinal!
Sinal de otimismo em relação à vida. Em suma, sinal de que a alegria é a nossa
vocação e o jejum apenas faça contraponto com o júbilo e o louvor. Não admira
que nosso principal sacramento seja celebrado em torno de uma mesa! Irmanados
em torno da mesa comum, todos com o mesmo e democrático pedaço de pão, somos
convivas do Senhor!
Há fome no
mundo. Não algo eventual, como os sete anos de vacas magras que o Egito
enfrentou no tempo de José, mas algo sistêmico, que resulta da própria natureza
do capitalismo. Neste, o Senhor Mercado (com maiúsculas, pois é o ídolo de
plantão!) dita as regras, indiferente à dor e à angústia de uma legião de
famintos. Escolhido o lucro como o alvo principal, é impensável baixar o preço
do trigo para que todos tenham acesso ao pão destinado a eles pelo Pai.
A partir do
Séc. XIX, pelo menos, a sociedade se fez refém dos economistas. É deles o
princípio cruel de que, primeiro, é preciso deixar o bolo crescer, para depois
reparti-lo aos pobres. Pois não era assim no início da Igreja. Não havia pobres
entre eles. Quem possuía bens, vendia tudo e partilhava, para que ninguém
ficasse sem o mínimo essencial. Se necessário, recorriam a outras comunidades,
tal como fez Paulo, ordenando uma coleta em Corinto em favor dos fiéis de
Jerusalém (cf. 2Cor 8).
O magistério
da Igreja não se cansa de chamar nossa atenção para os mais pobres. Já no Séc.
IV, São Basílio de Cesareia ensinava: “Se cada um conservasse apenas o que se
requer para as suas necessidades correntes e deixasse o supérfluo para os
indigentes, a riqueza e a pobreza seriam abolidas.” (Homilia 6)
Em nosso
tempo, é no mínimo um escândalo a desigualdade material entre os fiéis que
participam do mesmo banquete eucarístico: enquanto alguns dissipam grandes
valores em viagens e festas, o irmão a quem deram o abraço da paz, antes da
comunhão, tem a energia elétrica cortada por falta de pagamento...
Não é este o
banquete que Deus sonhou...
Orai sem cessar: “Felizes os convidados para a Ceia
do Senhor!”
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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