Pai nosso... (Mt 6,7-15)
O
cristão não reza assim: “Pai meu...” Ao ser batizado, ele foi mergulhado
no seio da família trinitária. Por esse mesmo pórtico, ele entrou na Igreja e
passou a fazer parte de uma família. Por isso, desde então, ele reza assim: “Pai
nosso...”
Em
seus “Cadernos”, Charles de Foucauld
anotou em oração: “Já que sois meu Pai, ó meu Deus, quanto eu devo sempre
esperar em Vós! Mas também, já que sois tão bom para mim, quanto eu devo ser
bom para os outros! Já que Vós quereis ser meu Pai e Pai de todos os homens,
como eu devo ter para todo homem – seja quem for, por pior que ele seja – os
sentimentos de um terno irmão! [...] Nosso Pai, Pai nosso, ensinai-me a ter
este nome sem cessar em meus lábios, com Jesus, nele e por ele, pois poder
dizê-lo é minha maior felicidade...”
Mas
não podemos estacionar no porto do lirismo. Reconhecer que Deus é Pai NOSSO
traz exigências de comunhão. Se o Pai é NOSSO, então serão igualmente
“nossos”: o PÃO, as OFENSAS, o BEM. Pão para a partilha. Ofensas para o perdão.
E o Bem que chamamos de bem-comum. E nós, os cristãos, devemos lutar
para tornar real essa comunhão que foi iniciada por nosso Batismo.
É nesta
moldura que podemos entender o quadro da Igreja de Pentecostes: “A multidão dos
fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas
que possuía: mas tudo entre eles era comum.” (At 4, 32-33.)
Na
prática, se não temos um Pai comum, não somos irmãos. A experiência da
fraternidade deriva diretamente da experiência da filiação. Enquanto não
re-conheço meu Pai, não re-conhecerei meus irmãos... A história de José do
Egito é proverbial nesse sentido. Quando o Pai nos adotou a todos... Quando o
Filho morreu por todos... Quando o Espírito de Pentecostes faz falar “todas as
nações que há debaixo do céu”... é porque se faz possível uma nova relação
entre todos os homens, acima e além de qualquer barreira racial, política ou
ideológica!
Não
há nada mais comprometedor que rezar o Pai-Nosso. Para entrar em seu sacrário
interior, esta oração exige que deixemos lá fora o sentimento de superioridade,
os rancores e os projetos de vingança. Exige que abramos braços e coração. Do
contrário, poderemos ouvir a pergunta feita a Caim: “Onde está o teu irmão?”
Orai sem cessar: “Oh! Como é bom e agradável
irmãos unidos viverem juntos!” (Sl
133,1)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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