Mais
tarde me seguirás...
(Jo 13,21-33.36-38)
É
notável o conhecimento que Jesus de Nazaré manifesta a respeito do íntimo de
seus discípulos. Ele lê os corações, tem o dom da “cardiognosia”. Nada em nós
permanece oculto ao seu olhar. Neste Evangelho, Pedro se diz disposto a
acompanhá-lo até a morte, mas o Mestre sabe que o velho pescador ainda não está
pronto. E logo terá a triste oportunidade de negá-lo por três vezes.
No
entanto, Jesus não se detém neste passo infeliz daquele que fora escolhido para
ser a “rocha” da Igreja (cf. Mt 16,18). Não se fixa na fragilidade humana que
ainda tortura o pobre Simão Pedro. O olhar profundo de Jesus já se projeta para
o futuro, quando o mesmo Pedro, na capital do Império, dará testemunho de sua
fé no Ressuscitado, ao morrer crucificado como seu Senhor.
Esta
verificação deve servir-nos de consolo. Ainda não estamos prontos. Estamos em
processo. Ainda temos apegos humanos, cadeias sentimentais, barreiras
materiais. Ainda não estamos verdadeiramente apaixonados pela missão que nos
foi apontada. Ainda nos encontramos paralisados pelos muros do medo, pela busca
de seguranças e garantias. Por enquanto...
Mas
Jesus sabe que vamos amadurecer. Os largos horizontes continuarão a nos chamar.
Um dia... “mais tarde”, diz Jesus... Um dia abriremos as mãos e deixaremos cair
por terra a última ilusão. Súbita iluminação nos mostrará o lado efêmero de
nossos sonhos, a banalidade de nossos diplomas, a falência de nossas reservas.
É
quando soprará de alto mar a brisa da mudança! É quando soltaremos velas
abertas ao poderoso vento de Pentecostes e, impelidos pelo Espírito, estaremos
dispostos a seguir o Mestre. Livres, leves, apaixonados...
Antes
de morrer, Pedro deixaria por escrito esta certeza de que Deus não tem pressa:
“Caríssimos, vivendo nesta esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre
numa vida pura, sem mancha e em paz. Considerai também como salvação a
paciência de Nosso Senhor”. (2Pd 3,14)
E
ainda: “O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a
demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que
ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se”. (2Pd
3,9)
Mais
tarde... Quando será? Quanto tempo ainda teremos nós para caminhar? Este
conhecimento não nos foi dado. Mas se o convite do Senhor é um convite a amar,
afinal, por que não amar agora?
Orai sem cessar: “Mostra-me, Senhor, o teu
caminho!” (Sl 27,11)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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