Esta
expressão, incluída por Jesus entre as beatitudes do Sermão da Montanha, faria
brotar rios de tinta ao longo dos séculos. É que ela incomoda, interpela,
subverte a sociedade pagã do orgulho e do lucro. Por isso, muitos tentam
adocicar seu alcance. Vejamos o sóbrio comentário de S. Leão Magno:
“Quando
Jesus diz ‘felizes os pobres em espírito’, ele nos mostra que o Reino dos céus
será dado antes à humildade do coração que à ausência de riquezas. Entretanto,
não há dúvida de que os pobres obtêm esse dom mais facilmente que os ricos,
pois a pobreza os inclina mais facilmente à bondade, e a riqueza dos outros
leva-os mais à arrogância.
Apesar
disso, muitos ricos possuem esse espírito que não põe a abundância a serviço de
seu prestígio, mas das obras de benemerência. Para estes, o ganho maior é o que
eles gastam para suavizar a miséria e o sofrimento de outrem. Assim, a
humildade do coração é partilhada por pessoas de todas as condições. Nós
podemos ser iguais nas disposições, mesmo sem o ser na fortuna. Seja qual for a
desigualdade de seus bens terrestres, não há distância entre aqueles que são
iguais em nível dos bens espirituais. Feliz, pois, a pobreza que não deseja
aumentar suas riquezas aqui de baixo, mas aspira a enriquecer-se dos bens
celestes.
Depois do
Senhor, os primeiros que nos deram o exemplo dessa pobreza magnânima foram os
apóstolos. Deixando todos os seus bens ao chamado do divino Mestre, alegremente
se converteram e abandonaram a pescaria de peixes para se tornarem pescadores
de homens (cf. Mt 4,18-20). Entre estes, muitos se assemelharam a eles ao
imitar sua fé: junto aos primeiros filhos da Igreja, “todos os fiéis tinham um
só coração e uma só alma” (At 4,32). Despojados de todas as suas posses,
estavam enriquecidos dos bens eternos graças à santa pobreza. A partir da
pregação dos apóstolos, eles se alegravam por nada possuírem neste mundo, mas
possuírem tudo em Cristo.”
É fácil
perceber que a “opção preferencial pela pobreza” adotada pelos primeiros
cristãos derivava de uma experiência de plenitude: Jesus Cristo bastava para
preencher o coração deles! Cheios de Deus, não havia em seu coração espaço
algum para acumular as quinquilharias deste planeta mineral...
Devo
considerar o polo oposto: se estou ocupado em acumular bens materiais, não será
porque meu coração ainda não está cheio de Deus?
Orai sem cessar: “A Ti, Senhor, o pobre se recomenda!” (Sl
10,14b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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