Os primeiros
pregadores da História da Igreja viram a necessidade de demonstrar que a
novidade cristã não abolia os mandamentos do Sinai nem desprezava a rica
contribuição das tradições de Israel. Um desses comentaristas foi S. Ireneu de
Lião [+202]. Eis o seu ensinamento:
“Os
preceitos naturais da Lei, isto é, aqueles pelos quais o homem se torna justo e
que, mesmo antes do dom da Lei, observavam os homens que eram justificados por
sua fé e assim agradavam a Deus, o Senhor não aboliu esses preceitos, mas os
amplificou e levou à perfeição. ‘Se vossa justiça – disse Ele mesmo – não
ultrapassar aquela dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus’.
(Mt 5,20)
Imposta a
escravos, a Lei educava a alma a partir do exterior e do corporal,
conduzindo-a, como por uma corrente, até a submissão aos mandamentos, a fim de
que o homem aprendesse a se ajustar com Deus. Mas o Verbo liberou a alma e
ensina a purificar o corpo pelo interior, a partir da vontade e do coração.
Era preciso,
desde então, que fossem suprimidas as cadeias da servidão graças às quais o
homem pudera formar-se, e doravante ele seguisse a Deus sem correntes; mas
também era necessário que fossem amplificados os preceitos da liberdade e fosse
acrescida a submissão ao Rei, para que ninguém, voltando atrás, se mostrasse
indigno de seu Libertador.
É por isso
que o Senhor nos deu, como palavra de ordem, em lugar de não cometer o
adultério, nem mesmo cobiçar; em lugar de não matar, nem mesmo nos pôr em
cólera; em lugar de amar somente nossos próximos, amar também os inimigos; não
somente ser generoso e pronto a repartir, mas ainda doar graciosamente nossos
bens àqueles que no-los tomam: ‘A quem toma a tua túnica – diz Ele – dá também
o teu manto’. (Mt 5,40).
Assim, em
todas as coisas, tu te tornarás útil a teu próximo, sem considerar a maldade
dele, mas levando ao cúmulo a tua bondade, e te tornarás semelhante ao Pai ‘que
faz o sol erguer-se sobre os maus e os bons, e chover sobre os justos e os
injustos’ (Mt 5,45).”
Esta era a
pregação dos apóstolos, não muito preocupados em contestar as estruturas
sociais de seu tempo, mas dedicados a orientar para Deus o coração dos homens. A
que se apega o meu coração?
Orai sem cessar: “A tua Lei, Senhor, é todo o meu prazer.” (Sl
119,174)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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