Nem ouro, nem prata...
(Mt 10,7-15)
Ao
comentar este Evangelho, o teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, mártir da fé
sob a perseguição do regime nazista, traduziu assim as instruções de Jesus aos
discípulos enviados em missão:
“Mostrai
claramente que, com toda a riqueza que tendes a distribuir, não desejais para
vós nem a posse, nem a consideração, nem a aprovação e nem mesmo o
reconhecimento! Aliás, sobre que poderíeis fundamentar vossas pretensões a tais
coisas? Toda honra que recai sobre nós, nós a roubamos daquele a quem, na
verdade, ela pertence: o Senhor que nos enviou. A liberdade dos enviados de
Jesus deve manifestar-se em sua pobreza.”
Como
é consolador ler as palavras de alguém que foi encarcerado, teve sua tarefa
precocemente amputada, mas permanece fiel ao Evangelho de Jesus, um Evangelho
de simplicidade e pobreza!
Bonhoeffer
prossegue: “O estado daquilo que os discípulos possuem está regulamentado em
seus mínimos detalhes. Eles não devem fazer-se notar como mendigos vestidos de
farrapos, nem ficar ao encargo dos outros como parasitas. Mas é revestidos da
libré da pobreza que eles devem ir adiante. Devem também ter poucas coisas
consigo, como aquele que atravessa uma região com a certeza de, ao cair da
noite, encontrar-se entre amigos, na casa que o acolherá é lhe fornecerá o
alimento necessário. Por certo, não precisam depositar esta confiança nos
homens, mas naquele que os enviou e no Pai celeste que deles cuidará”.
Parece
ingênuo? Parece infantil? Se parece, deve andar bem raquítica a nossa fé. Se me
permitem um testemunho pessoal, quando deixei o magistério para me dedicar à
evangelização em tempo integral, nossa família experimentou um tempo de dez
anos inteiros sem salário e sem nenhuma renda fixa. E em todo esse período, nada
nos faltou e os dois filhos cursaram a universidade. A serviço do Evangelho, aprendemos
que a Providência divina não é uma lenda infantil, mas uma realidade palpável
nos pequenos eventos de cada dia, o que incluía anônimas sacolas de alimentos
na varanda e as doações mais imprevistas em viagens missionárias.
Como
conclui Dietrich Bonhoeffer, “é assim que eles [os discípulos em missão]
tornarão digna de fé a mensagem que anunciam, esta mensagem da soberania de
Deus que faz irrupção sobre a terra”.
Orai sem cessar: “Em
Deus confio, não temerei!” (Sl
56,4)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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