Servo bom e fiel... (Mt 25,14-30)
Nesta parábola dos
talentos, o antônimo de “fiel” é “preguiçoso”. Fiel é aquele que confia,
exercita a fé, transformando-a em ação. A fidelidade é a manifestação exterior
da fé interior. Já o preguiçoso é um tipo tímido, cujo temor o impede de dar o
passo e entrar em ação.
O fiel não é um
super-homem. Ele não aposta simplesmente em seus dons e habilidades, mas no próprio
Senhor, que é a fonte de todos os dons. Seu esforço e sua atuação são a forma
de corresponder ao investimento do Senhor na sua pessoa. E se esses dons
frutificam, servem apenas para que o fiel os possa devolver amplificados à sua
Fonte primeira, o mesmo Senhor.
O preguiçoso
também recebe o investimento do Senhor, mas não é capaz de apostar, de ousar,
de fazer o ato de fé próprio de quem conta mais com o Senhor dos dons do que
com os dons do Senhor. Em busca de segurança, ele enterra os talentos e os
devolve intactos no reencontro com seu Senhor.
Para Hans Urs von
Balthasar, este Evangelho nos fala do acerto de contas que o homem deve prestar
a Deus. A fortuna de Deus é confiada às criaturas pelo Criador, e aos
resgatados pelo Redentor, a cada um segundo suas capacidades, sempre de modo
bem pessoal.
“Nós falamos de
talentos espirituais, que são igualmente dados de modo pessoal aos indivíduos:
nós os recebemos na qualidade de fiéis depositários e não temos o direito de
trabalhar com eles para nós mesmos (para nosso ‘crescimento espiritual’), mas tão
somente para Deus. É que nós mesmos, com tudo o que possuímos, também nos
devemos a Deus.
Na parábola, o
proprietário parte em viagem e nós, os servidores, ficamos ali com todos os
seus bens, e é da natureza dos talentos que eles devam dar algum lucro. O servo
preguiçoso não quer ver em tudo isso a bondade do Senhor, mas sua severidade, e
se embrulha em suas contradições.
Ao contrário, aos
servidores que lhe devolvem o dom frutuoso com seus frutos, o Senhor dá como
salário uma fecundidade incalculável, eterna.”
Assim, a fé
autêntica transforma o crente em um colaborador do próprio Deus, como
instrumento de edificação de um Reino que nos ultrapassa infinitamente. O
verdadeiro motivo da inação, do conformismo e de uma religiosidade abstrata é,
no fundo, a falta de fé.
O santo é alguém
que faz frutificar os dons recebidos de Deus...
Orai sem cessar: “Creio,
Senhor, mas aumentai a minha fé!” (Mc 9,24)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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