Sete
vezes... (Lc 17,1-6)
Não. Não se trata de neutralidade
diante do mal. Quem erra precisa de correção. A impunidade reforça o erro. Mas
os arrependidos merecem perdão. Uns mais, outros menos, todos nós erramos um
dia e precisaremos do perdão.
Não fosse tão imperiosa a
necessidade de ser perdoado, o Senhor não nos teria ensinado a rezar: “Perdoai
as nossas dívidas” ou, segundo a nova tradução, “perdoai as nossas ofensas”. Se
o perdão nos é negado, cresce em nós o remorso, o sentimento de culpa ou o
desespero. Foi um perdão excessivamente adiado que fez de Absalão o inimigo nº
1 de seu pai, Davi. (Cf. 2Sm 14,24.)
Ao contrário, quando lemos no
Evangelho que o Paraíso foi reinaugurado com a entrada inesperada de um
criminoso arrependido – a quem, eufemisticamente, chamamos de “bom ladrão” (cf.
Lc 23,43) – tomamos consciência de que também nós podemos ter acesso ao perdão
divino.
Sim, dois mil anos depois de Cristo,
ainda temos dificuldades em relação ao perdão. Primeiro, a dificuldade em pedir
perdão. Oscilamos entre o desespero (modalidade de orgulho que nos leva a
pensar que nosso pecado foi maior que a misericórdia divina) e a arrogância (eu
sou assim; quem quiser, que me engula do jeito que eu sou)... A seguir, a
dificuldade de dar perdão. Arrazoamos: “Se perdoo já, mostro fraqueza...
Vão abusar e recair no erro... É melhor um tempo de silêncio, um “gelo”, com
relações cortadas... Vou adiar, dar uma de ‘durão’, dificultar as coisas...”
E não percebemos o essencial: quando
alguém é perdoado, especialmente em matéria grave, tem a oportunidade de
experimentar o amor que ainda desconhece. Assim o cônjuge que trai, se
arrepende e pede perdão, ao recebê-lo, é levado a meditar: “Puxa! A que ponto
ele (ela) me ama! A ponto de me perdoar!” E, assim, vê-se impelido a pagar amor
com amor...
Sete vezes! Na mentalidade semítica,
o número “7” é a cota da plenitude. Logo, perdoar “sete vezes” significa
perdoar sempre. Seria estranha ao Evangelho de Jesus a atitude de quem diz:
“Vou perdoar... mas não me caia noutra! É a última vez!”
A cada vez que nos confessamos –
mesmo repetindo pecados habituais -, Deus nos perdoa como se fosse da primeira
vez. É preciso reconhecer: parece que Ele não tem boa memória para nossos
crimes. Perdoa e esquece.
Tentaríamos imitá-lo?
Orai
sem cessar: “Amai vossos inimigos!” (Mt 5,44)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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