Não surgiu quem fosse maior... (Mt 11,11-15)
Estamos falando de João
Batista, o precursor [em grego, pródromos,
isto é, “o que corre na frente”]. E esta avaliação que ele mereceu de Jesus de
Nazaré é um elogio notável, pois o coloca acima de todos os patriarcas e
profetas da Primeira Aliança.
E qual será a razão
deste elogio excepcional? Até onde posso ver, trata-se de sua escolha para ser
a “voz imediata” no anúncio do Reino que se avizinhava na pessoa do Messias,
Jesus Cristo. Cheio do Espírito Santo desde o ventre materno (Lc 1,44),
cumpriria sua missão ao preço da própria vida.
E isto me faz pensar que não temos
dada a devida consideração nem o devido valor às pessoas que também assumem a
mesma missão: ser uma voz que anuncia o Senhor. Ao mesmo tempo, ajuda a
compreender por que os tiranos de todos os quadrantes, de todas as épocas, se
apressam a calar as vozes que repetem o Evangelho...
Hoje, no deserto das
grandes cidades, somos chamados a assumir missão semelhante à do Batizador.
Quem nos fala sobre isso é o Bispo do Saara argelino, Claude Rault:
“Nossa vocação é a de
ser como João Batista: traçadores de estradas, humildes caminheiros do Bom
Deus! O Batista tem consciência disso: ele abre a estrada para aquele que vem
depois dele, ele caminha por um Outro. Isto exige fidelidade, confiança e
gratuidade nas relações. Assim se traça um caminho, e outros continuarão a
assumi-lo. Invisível, Jesus pisa sobre nossos passos.
João Batista traça um
caminho, ele é um caminheiro cujas passadas acabam por nos deixar uma trilha. É
a figura que ainda hoje nos inspira. A seu modo, somos chamados a deixar uma
esteira na vida deste mundo, como estradeiros infatigáveis. A rota que deixamos
atrás de nós será tomada por outros. É isto que fazemos no grande deserto da
vida...”
Mas o mesmo profeta nos
deixa outra lição: apagar-se, distanciar-se, sair do foco. Quando cercam João
Batista, inquirindo-o se seria o Messias esperado, ele não só o nega, mas se
põe em segundo plano: “Não sou digno de lhe desamarrar as sandálias”. E
arremata o lema que devemos assumir nas missões da Igreja: “Importa que ele
(Jesus) cresça, e eu diminua...”
O arauto corre o risco
permanente de se confundir com o Rei. Sua missão é apenas tocar a trombeta e
perder-se na multidão que espera pelo Senhor.
Orai sem cessar: “Quero ensinar teus
caminhos aos que erram... (Sl 51,15)
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