Olhando-o fixamente... (Jo 1,35-42)
Este
Evangelho narra – com admirável economia de detalhes – o encontro dos primeiros
discípulos com Jesus de Nazaré. Foi André quem conduziu Simão, seu irmão, até
Jesus. Bastou olhar para ele, e Jesus define a missão do velho pescador: “Tu
serás Khefas, a pedra, a rocha”...
A “isca”
utilizada por André para atrair Simão foi o anúncio inesperado: “Encontramos o
Messias!” Tratava-se do Ungido de Deus, anunciado pelos antigos profetas, há muitos
séculos esperado pelo povo de Israel. Obviamente, os pescadores de Cafarnaum
não andavam em busca do Messias, mas à procura de peixes no Lago de Genesaré,
tantas vezes estéril e indiferente ao esforço deles. Logo, trata-se de um
encontro inesperado, pura graça...
O verbo
grego empregado pelo evangelista João é “emblépsas”,
que expressa um “olhar fixo”, isto é, uma mirada profunda, perscrutadora, que
lê o profundo do ser. Ali, Jesus “lia” a alma de Simão Pedro e reconhecia nele
o futuro líder dos Doze. É o que comenta o mestre espiritual André Scrima:
“Acontece um
encontro mais pessoal, um encontro profundo que causa a mutação da vida, do ser
e do nome. ‘Jesus o olhou.’ Ele penetrou na intimidade da alma de Pedro, em
suas profundezas. De agora em diante, Pedro tornou-se apostolo e mudou seu
nome, sua vida e seu ser.
O ‘nome
novo’ de que fala o Apocalipse (2,17), o nome secreto que ‘homem algum conhece,
exceto quem o recebe’, escrito em uma pedrinha branca. Este seixo (a pedra) é a
fé firme, e sua profissão ao modo da profissão de Pedro. Pelo batismo, nós
recebemos toda esta fé e esta pedrinha branca, assim como o nome novo, através
da profissão de fé em Cristo.
Assim, nós
devemos mudar nossa vida e assumir nosso novo nome, assumir nosso chamado, o
chamado que Deus nos dirige, a fim de que nos tornemos brancos, puros, luminosos.”
Este
encontro às margens do Lago traça para eles uma linha divisória: até aqui,
pescadores de peixes; doravante, pescadores de homens (cf. Mc 1,17). Eis a
evidência registrada ao longo da História: é impossível encontrar-se com Jesus
Cristo sem iniciar uma reviravolta em nossa vida. A experiência pessoal de
Jesus Cristo é o ponto de partida para a santidade, para a descoberta do
sentido da vida, como ocorreu com Saulo, com Francisco, com Inácio. Como
precisa ocorrer com cada um de nós...
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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