Faça-se em mim... (Lc 1,26-38)
A cena deste Evangelho é
o momento da Encarnação do Verbo. O mensageiro divino vai à jovem Maria de
Nazaré. Qual seria o objetivo de sua missão? Por que Deus terá enviado Gabriel
até uma pobre aldeia dos galileus? Acompanhemos a meditação de François
Trévedy:
“Tendo batido a tantas
portas sucessivas, Deus acaba por bater a esta porta: a mais baixa, a mais
estreita, a mais obscura; a esta “porta do céu” – Felix coeli porta – que é de início, simplesmente, a porta da
terra. Ele bate à parede da carne mais escondida para escutar o som que esta
lhe dará: Ecce ancilla Domini [eis a
escrava do Senhor].
É ali, bem baixo, que se
passará o mínimo anel, a menor das alianças; é ali, no mais ínfimo da condição
humana, que se vai escrever e fazer a conjunção de coordenação do Verbo e do
homem, do Nome e de nós: Emmanuel.
Esta página não é uma
mitologia, mas, sob o signo da Mulher - Signum
magnum (Ap 12,1) – é a história da Aliança em sua extrema consequência
carnal, pois, afinal, em seu desejo apaixonado pela carne, Deus é perfeitamente
lógico consigo mesmo: ele vem, ele quer fazer seu noviciado de extrema
pequenez, para virar de cabeça para baixo os tronos das ideias imperiais que
nós fazemos dele e que, na realidade, só escondem nossas próprias pretensões.
Ingreditur haec ínfima Iesus Christus [Jesus Cristo penetra nos
subterrâneos deste mundo – S. Leão Magno]. Em outras palavras, o Infinito faz
conhecimento carnal com o ínfimo.”
Fracassaram todas as
alianças anteriores. Desde Noé, passando por Abraão e Davi, os filhos de Eva
foram infiéis à aliança com o Altíssimo. Que faz ele, por não desistir de seu
anseio de aliança conosco? O Altíssimo desce. E precisa de um espaço humano uma
carne – que o acolha de forma plena, cabal, definitiva. Este “espaço” é Maria,
Mãe de Deus. E sua resposta ressoa pela imensidão do Cosmo: “Faça-se em mim
segundo a tua Palavra!”
Não é ela quem faz. Ela diz: faça-se, seja feito. E o agente, o Autor do grande milagre – o
Verbo feito carne mortal – é o Espírito criador, o mesmo que insuflara as
narinas do primeiro homem.
O Filho que ela nos dá
como presente de Natal é o primeiro homem de uma nova humanidade: o novo Adão,
Jesus, delícia do Pai, delícia de todos nós.
Orai sem cessar:“Conservo no coração
tuas palavras...”
(Sl 119,11)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança
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