Temos um
tempo. Temos uma vida. Só uma. Conforme a Carta aos Hebreus, só se vive uma vez
e, logo após nossa morte, segue-se o juízo que decide nossa eternidade. (Hb
9,27.) Pintemos a mesma cena em cores mais vivazes: Deus preparou-nos um
banquete, a festa das núpcias do Cordeiro, seu Filho; e espera que fiquemos
atentos, despertos, preparados para o grito que se ouvirá no meio da noite
fechada de nossa História: “Aí vem o noivo!” Neste momento, quem estiver
preparado, entrará para o festim. Quem chegar depois, achará a porta fechada.
Eram dez as
virgens – símbolo da alma à espera do Senhor. Cinco delas sábias, cinco
insensatas. Prefiro a tradução antiga: cinco prudentes e cinco loucas. Temos
uma escolha entre a prudência e a loucura. A prudência deriva certo “azeite”
que foi acumulado, reserva para a Hora H. A loucura consiste em não levar a
sério a urgência da hora e cochilar sem o óleo do Espírito. Para o místico
russo do Séc. XIX, São Serafim de Sarov, o “azeite” que alimenta a chama das
lâmpadas noturnas é o próprio Espírito Santo. Sem ele, ficamos nas trevas. Com
ele, nossas lamparinas se acendem e acompanhamos, festivos, a entrada do
Cordeiro de Deus para o banquete nupcial.
Há muitas
formas de cochilar. Concentração exclusiva no trabalho, na carreira e nos
negócios, isto é, em “ganhar a vida”, como se não houvesse lá no alto um Pai
providente. Uma corrida tresloucada em busca do sucesso, saltando de palco em
palco, de projeto em projeto, de produção em produção. Uma luta encarniçada
para tomar posse e conservar o poder, usando para isso de todos os meios e
procedimentos, custe o que custar, doa a quem doer.
Isto é loucura, diz o Evangelho. Loucura que nos distrai do
essencial – o amor de Deus e o amor ao próximo -, ao mesmo tempo que nos
fragmenta a alma, dilacera o corpo e entreva o espírito. Pura loucura.
Enquanto
isto, os pequeninos – que tudo esperam do Senhor – dedicam seu tempo à oração e
ao serviço aos irmãos, à meditação da Palavra e a vivê-la no dia-a-dia, ao
convívio fraterno e à adoração. Assim, suas lâmpadas permanecem com o óleo da
vida, a presença atuante do Espírito de Deus, que permite caminhar na penumbra,
enquanto não chega a Aurora...
A Aurora vai chegar. A luz vencerá
as trevas. O Noivo não tarda a chegar. Mas, quando chegar, estaremos despertos?
Orai sem cessar: “Ficarei de pé na torre de
vigia...” (Hab 2,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.

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