Podeis beber do meu cálice? (Mc 10,35-35)
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Tiago e João
pedem ingenuamente a Jesus um privilégio: sentar-se ao lado de seu trono, como
ministros, quando o Reino for instaurado. Em vez da segurança e da honra
hierárquica, Jesus lhes oferece uma “vertigem”: beber de seu cálice, sua taça
de sofrimento, que irá sorver no Calvário.
A imagem é
do beneditino François C.-Trévedy, que – não sem certa ironia – afirma que
Jesus é um grande “bebedor”. E comenta que isso era de conhecimento público, ao
menos entre seus adversários, que o acusavam de andar em más companhias,
contrapondo Jesus à sóbria figura de João Batista.
“Jesus bebe
água, sem dúvida, pois ele pede a uma mulher perigosa: ‘Dá-me de beber!’ Ele
bebe vinho, seguramente, mas do grand cru,
que ele providencia pessoalmente. Para encerrar, ele bebe vinagre. Bebe o
sofrimento, a humilhação, ele engole, ele deglute até a morte, ainda que ‘a
morte seja tragada em sua vitória’ (cf. 1Cor 15,54).
Ardente
bebedor, ele absorve as grandes águas da morte nos canais cavados pelo profeta
Elias no Carmelo. E não contente de beber, convida-nos generosamente a beber
com ele; mais ainda, faz propaganda de si mesmo, convida para si mesmo como a
única bebida capaz de desalterar nossa sede: “Se alguém tem sede, venha a mim e
beba!” (Jo 7,37)
Mas ele não
apenas bebe: ele é batizado
[mergulhado], o que dá no mesmo em sua experiência. É verdade que mergulhar
(totalmente) é uma outra maneira de beber: ainda que representem dois
diferentes usos do mesmo elemento líquido, a bebida e o banho se aproximam como
duas maneiras equivalentes de se abismar. A piscina tem a mesma forma da taça;
a eucaristia já assume sua forma no batismo.
Ainda que em
plena noite, Jesus bebe voluntariamente da taça
em que, como Filho bem-amado, ele está de acordo com o Pai, e na qual o próprio
Pai está envolvido no mais profundo de si mesmo: ele vive, ele se banha
perpetuamente, bem lá embaixo, no seio do
Pai, o seio de ternura sem fundo fora do qual a taça seria inaceitável,
tanto para ele quanto para nós, fora do qual o banho na morte seria
intolerável, para ele como para nós.”
Hoje, como
naquela cena da Palestina, somos muitos a desejar os tronos, poucos a aceitar o
cálice de Jesus. Por isso a mensagem do Evangelho permanece periférica,
epidérmica, sem mergulhar bem fundo...
span style='font-size:11.0pt;line-height:150%'>Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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