Como
uma criança... (Mc
10,2-16)
Os pagãos adultos já decidiram que o
casamento é apenas um contrato como outro qualquer, mero documento de cartório.
Se ele parece tornar-se incômodo ou penoso, rasga-se o papel. Afinal, eles são
adultos...
Naturalmente, não é esta a visão
cristã a respeito do sacramento do matrimônio. Vale a pena meditar no
comentário de Hans Urs von Balthasar sobre esta passagem.
“O Evangelho regula a questão do
casamento: Jesus, indo muito além de Moisés, reconduz à ordem original da
criação, a ordem de Deus. Não uma lei positiva, mutável, mas uma lei inscrita
na natureza do homem. Esta natureza é ao mesmo tempo corporal e espiritual, de
modo inseparável.
Corporalmente, o homem e a mulher
tornam-se ‘uma só carne’, e como o homem ‘deixa seu pai e sua mãe e une-se à
sua mulher’, e sua união produz filhos que devem ser criados, os dois se tornam
ao mesmo tempo ‘um só espírito’. E como a união que remonta a um ato de Deus é
definitiva, ela não pode ser dissolvida pelo homem.
Se o Evangelho acrescenta ainda o
episódio da bênção das crianças, este episódio pode ser ligado ao que precede.
As crianças são aqui, expressamente, o modelo de todo homem que acolhe o Reino
de Deus, de modo que também as pessoas casadas, se elas mantêm diante de Deus
uma atitude de criança, não podem adotar mutuamente a atitude superior de um
adulto.
Permanecer juntos, como crianças
diante de Deus, torna possíveis o entendimento e o bem-querer recíprocos, que
sobreviverão às inevitáveis tensões da existência.”
A pretensão pagã consiste em
considerar o “outro” como simples “outro”, como se não fosse – após o divórcio
– a “metade amputada de mim” que um poeta cantou. O “outro” que se vire, ainda
mais se já existe “outra” em perspectiva. Pessoas vistas como coisas... como
objetos...
E assim, sucessivamente, os
“companheiros” temporários vão passando em procissão pela vida do pagão, sem
jamais atingirem a unidade pela qual anseia o verdadeiro amor, cujo alvo é a
eternidade.
“Eu sou eu. Você é você. Jamais
seremos um. Podemos dizer adeus a qualquer momento.” Triste ideal do casamento
entre pagãos...
Orai sem cessar: “O meu amado é todo meu, e sou
dele...” (Ct 2,16)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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