PALAVRA DE VIDA
Paga o que me deves! (Mt 18, 21-35)
Para o teólogo Hans Urs von Balthasar, poucas parábolas do Evangelho possuem a força transformadora deste Evangelho. Não temos nada a objetar! E nenhuma outra parábola nos põe diante dos olhos a amplitude de nossa falta de amor. Segundo von Balthasar, “continuamente exigimos de nossos semelhantes que nos paguem aquilo que, em nosso modo de ver, eles nos estão devendo, sem considerar por um instante aquelas faltas [dívidas] que Deus nos perdoou por completo”.
De fato, em uma sociedade acostumada à visão capitalista, já se tornou em nós uma segunda natureza a atitude habitual de cobrar dívidas, exigir reparação, prestação de contas. A ênfase nos “direitos do homem” orienta nosso comportamento para a cobrança, semeia em nosso coração a permanente impressão de que estamos sendo lesados e nossos direitos não são respeitados. Nesse contexto, o gesto de perdoar se traduz por fazer papel de bobo...
Aí, distraidamente, olhamos para a cruz do Calvário e contemplamos Jesus de Nazaré, que deu o sangue dele para pagar a conta nossa. São Paulo se refere ao “documento escrito contra nós” – uma fatura impagável! -, que foi cravado na cruz e teve os algarismos borrados com o sangue de um Deus. (Cf. Cl 2,14.)
Depois do drama do Calvário, quando o inocente morreu pelos pecadores, que desculpa encontraríamos nós para não perdoar os que nos ofendem? O conceito tradicional de justiça acabou abolido pelo amor que se entrega livremente.
É assim que este áspero Evangelho nos recorda uma dívida de amor. Uma dívida impagável, é verdade! Atenção, porém: impagável não é o pecado que cometemos, mas o sacrifício amoroso que o apagou definitivamente. Desde então, a consciência de que somos devedores acende em nós a profunda gratidão pela graça recebida e, simultaneamente, a disposição de agraciar nossos devedores.
Santo Agostinho pergunta: “Quais as dívidas que tu queres que te perdoem? Todas ou uma parte delas? E responderás: ‘Todas’. Faz o mesmo, tu também, com teu devedor. Tal é a regra que formulas e a condição que estabeleces”.
Orai sem cessar: “Tende piedade de mim, Senhor,
segundo a vossa imensa misericórdia!” (Sl 51, 3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:
Postar um comentário