quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PALAVRA DE VIDA

Uma cana agitada pelo vento? (Lc 7, 24-30)

Neste Evangelho, Jesus reflete com o povo acerca da figura de João Batista, seu Precursor. Quando João iniciara sua pregação às margens do Jordão, após uma vida inteira nas solitudes do deserto, logo as multidões se agruparam à sua volta. Como explicar seu poder de atração?

Não era, por certo, o seu vulto magro, coberto pela áspera cintura de couro dos antigos profetas – a mesma veste e misericórdia que o Criador tecera para o primeiro casal, antes que os pais perdessem a segurança do Éden. (Cf. Gn 3, 21.) Nem era sua eloquência, sem palavras e imagens sedutoras, mas reduzida à mensagem seca: “O Reino está próximo. Convertei-vos!”

Apesar de tudo, paira no ar uma sensação de urgência. O vento do deserto arrepia a pele, o apelo premente faz vibrar os corações. E lá está João: um profeta, e mais que um profeta! (Lc 7, 26.) Sua presença impressiona pela força da verdade proferida, ainda que em nada lembre os oradores religiosos de seu tempo, perdidos em um cipoal de preceitos e proibições legais.

Por isso mesmo, Jesus insiste em contrastar a figura concreta de João com retratos que não lhe cabem: homem vestido de seda... cana agitada pelo vento... Na primeira imagem, a moleza da alta classe. Na segunda, a volubilidade dos governantes que se adaptaram ao Império Romano e buscavam lucrar com a nova ordem das coisas. A cana – ou caniço – não oferece resistência ao vento que sopra: dobra-se, amolda-se, consente. Entre nós, a expressão correspondente é “maria-vai-com-as-outras”. Designa aqueles que seguem a moda, sem opinião própria, sem resistir à modelagem do sistema.

Sua filosofia é: “Que é que tem? Todos fazem! Está na moda! Os tempos mudaram...” E lá se vão para o lixo os valores dos pais, o exemplo dos avós, a doutrina da Igreja, os mistérios da fé. E aplaudem a propaganda homossexual, a enxurrada de divórcios, a carnificina do aborto, a violência da eutanásia.

Ora, desde os primórdios da Igreja, o cristão é aquele que nada rio acima, contra a corrente, sem ceder à pressão do Império, sem divinizar a César, sem aplaudir os tiranos, mesmo ao preço do próprio sangue. A incontável procissão de mártires testemunha esta verdade, a demonstrar alegremente que a fé em Cristo Jesus nos dá a força para enfrentar o exército do Mal.

Que somos nós? Caniços ao vento? Ou estamos firmes no Rochedo de nossa salvação?

Orai sem cessar: “O Senhor é meu Rochedo, meu libertador! (Sl 18 [17], 3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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