É Raquel a chorar seus filhos! (Mt 2, 13-18)

Alguns “doutores” duvidam da veracidade histórica do fato narrado, mas eu me recuso a crer que o evangelista Mateus registrasse cena tão crua, se não estivesse convencido de sua autenticidade. Aliás, a dificuldade humana em olhar de frente o sofrimento extremado é, já, proverbial; preferimos fingir que não aconteceu ou tentamos apagar os registros históricos. Algo semelhante ao que aconteceu quando se pedia a demissão do Papa, pois não suportavam mais contemplar o seu esforço sobre-humano no cumprimento da missão.
Na excelente Bíblia de Navarra, uma nota de rodapé comenta este episódio: “Ramá foi a cidade em que Nabucodonosor, Rei da Babilônia, reuniu os prisioneiros israelitas. Por estar situada na tribo de Benjamin, Jeremias põe na boca de Raquel, mãe de Benjamin e de José, as lamentações pelos filhos de Israel.” No Evangelho, o pranto de Raquel é aplicado à situação das mães que tiveram seus filhos mortos a mando de Herodes.
Guardadas as proporções, o mesmo medo de Cristo que provocou a morte dos “Santos Inocentes” - os primeiros mártires “por causa de Cristo” – ainda permanece latente em nosso mundo. É numerosa a multidão das pessoas que têm medo de Jesus. Não medo de castigos ou vinganças, mas medo de suas exigências, medo de seus princípios e valores, medo de ter que fazer algum tipo de esforço ou sacrifício para acolher a Boa Nova.
E mais: medo de que os filhos se deixem seduzir por Cristo e sigam uma vocação consagrada; medo de uma pregação exigente; medo de ter prejuízos por causa da mensagem cristã. Esse medo leva a críticas, a acusações de radicalismo, a tentativas de edulcorar e amaciar o conteúdo real do Evangelho.
Permanece viva a tentativa de domesticar Jesus Cristo, adaptando-o a nossas comodidades e apegos pessoais. E se Ele começar a incomodar muito, não tenham dúvida de que surgirão novos Herodes bem à nossa frente...
Orai sem cessar: “Não esqueças para sempre, Senhor,
a vida de teus pobres!” (Sl 74, 19b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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