segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

PALAVRA DE VIDA

Vinho novo, odres novos... (Mc 2, 18-22)

A pessoa humana pode ser comparada a um odre: uma espécie de cantil ou reservatório a ser preenchido. Os odres dos orientais eram feitos com a pele de um pequeno animal, depois de limpa e virada do avesso. Um odre novo conserva a elasticidade da pele e tem mais resistência que um odre velho, de pele já ressequida e rígida.

A graça de Deus e as moções do Espírito Santo podem ser comparadas ao vinho. Tal como a bebida, os impulsos do Espírito trazem alegria e animação, acabam com o desânimo e a timidez. Durante o período de fermentação, o vinho novo produz gases, movimenta-se em seu recipiente.

Quando Jesus começou a ensinar no meio judaico, tão apegado à Lei Antiga, muitas de suas lições pareciam vinho novo, borbulhante, e eram vistas como ameaça para a morna estabilidade do sistema religioso de seu tempo.

Hoje também, podemos estar acostumados a um tipo de prática religiosa (novenas, procissões, ladainhas, devoções particulares) e manifestar estranheza diante de alguma “novidade” do Espírito de Deus (orações espontâneas, palmas acompanhando os cânticos, repouso no Espírito ou compromisso político). Especialmente os que se veem como “renovados” devem ter caridade suficiente para aceitar que os irmãos de fé se sintam ameaçados pelo vinho novo, procurando entender sua fixação nas antigas fórmulas.

Por outro lado, os fiéis mais tradicionalistas correm o risco de não acolher autênticas inspirações do Espírito Santo, que sempre sopra onde quer e se manifesta de modo multiforme em lugares e épocas diferentes. O essencial é distinguir entre “formatos” de valor acessório, que mudam naturalmente com o passar dos anos, e a “substância” da fé, esta, sim, essencial.

Rezar em latim ou português não deve ser motivo de inquietação nem de divisões. O importante é rezar. Bater palmas, ou não, durante os cânticos, é um detalhe de pouco significado. O importante é cantar. Mas o conteúdo de nossa fé – como está registrado no “Símbolo dos Apóstolos” – exige de todos nós a mais perfeita unidade. Uma falha neste ponto levaria à divisão e aos cismas.

A lição de Jesus é que a pessoa deve experimentar pessoalmente uma renovação interior antes que tentem forçá-la a recolher o vinho borbulhante do Espírito Santo. Do contrário, o remendo (de linho cru, pano não encolhido) acabará por tornar ainda maior o rasgão do velho tecido. Prudência, pois...

Orai sem cessar: “Ó Deus, enraíza em mim um espírito novo!” (Sl 51,12)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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