quinta-feira, 8 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

 No outro mundo... (Lc 16, 19-31)
            Notável a parábola do “rico indiferente”, ou melhor, “parábola dos seis irmãos”, como sugere J. Jeremias (“As Parábolas de Jesus”, Ed. Paulinas, 1983). Parábola que pode ser lida com humor ou com tremor...
Uma narrativa costurada em dois tempos: neste mundo, o pobre entre dores e o rico entre gozos; no outro mundo, as posições invertidas. E... para sempre, sem remissão... Detalhe curioso: esta é a única parábola de Jesus em que um dos personagens tem nome: Lázaro (ou Eleazar), que significa, em hebraico, “Deus ajuda”. Já o apelido do rico indiferente – Epulão – é posterior e não consta do original.
            Entre os dois “tempos”, a morte como um limiar e uma virada, que tudo multiplica por (–1), invertendo todos os valores. O mendigo sofredor acaba no “seio de Abraão” (imagem do Céu), enquanto o rico gozador acaba atormentado no inferno (dispensa imagens!). O rico tenta um recurso paradoxal: pede a Abraão uma espécie de mediação do próprio Lázaro, para refrescar sua sede infernal. O mesmo que, antes, negara migalhas de pão, agora suplica por uma gota d’água...
Como isto era impossível, pois um abismo intransponível (chaos magnum, em latim) impede o contato entre céu e inferno, o condenado mostra preocupação com seus cinco irmãos que ainda vivem na terra e – supõe-se – viviam um estilo de vida semelhante ao que ele mesmo havia escolhido. Pede que o fantasma de Lázaro vá alertá-los. E ouve do Pai Abraão a resposta: “Eles têm Moisés (a Palavra escrita, lógos) e os Profetas (a Palavra viva, rhema). Basta ouvi-los!”
O ricaço desesperado ainda tenta argumentar que a aparição de um morto entre os vivos teria mais impacto e os levaria à conversão. E logo recebe a crua resposta: quem não está disposto a ouvir a Lei e as Profecias, onde fala o próprio Deus, também não daria ouvidos a um possível fantasma...
Quantas lições para nós! Não se vive impunemente. Haverá uma retribuição proporcional. Ficar surdo à Lei de Deus é coisa séria, de graves consequências. A indiferença ao pobre que passa ao nosso lado é uma indiferença mortal!
Prefiro, contudo, fixar-me em uma única lição: existe um OUTRO MUNDO. Este mundo material não é o único. Aliás, este é provisório, passageiro. O outro, sim, é definitivo, tecido de eternidade. E viver a vida como se nada houvesse além deste mundo, é pura insanidade!
Afinal, para que mundo nós estamos vivendo?

Orai sem cessar: “A ti, Senhor, o pobre se abandona confiante!” (Sl 10, 14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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