quarta-feira, 7 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

E dar a sua vida... (Mt 20,17-28)
            O amor é assim. Vive para morrer. Morre para que o outro viva. E acha o seu sentido profundo quando gasta a vida pelo bem do outro. Jesus assevera: “Ninguém tem maior amor do que quem dá a vida por seu amigo.” (Jo 15,13.) As hipóteses freudianas sobre o homem divergem: pregam a afirmação de si mesmo, a busca de realização pessoal, a recusa de toda ascese, o abandono às próprias inclinações e a repulsa por todo sacrifício.
Claro: Freud e o Evangelho são antípodas... E desde que sua psicologia se vulgarizou, foi minguando nossa capacidade de doação, a disposição para o altruísmo, para uma vida centrada no outro. Sempre mais egoístas, roubamos do amor seu sopro de eternidade para viver com mesquinhez as realidades terrestres.
            Em sua Encíclica “Deus é amor” [Deus caritas est], o Papa Bento XVI escreve: “A verdadeira novidade do Novo Testamento não reside em novas ideias, mas na própria figura de Cristo, que dá carne e sangue aos conceitos – um incrível realismo. [...] Na sua morte de cruz, cumpre-se aquele virar-se de Deus contra si próprio, com o qual Ele se entrega para levantar o homem e salvá-lo – o amor na sua forma mais radical. O olhar fixo no lado transpassado de Cristo, de que fala João (cf. 19,37), compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta Encíclica: “Deus é amor” (1Jo 4,8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar.” (DCE, 12.)
            Coerente, Jesus vive o que ensinou. Humilde, entrega-se à morte ignominiosa, entre dois malfeitores, remindo com seu sangue a humanidade decaída. João resume o sentido de sua entrega: “Tanto Deus amou o mundo, que lhe entregou seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16.)
Os mártires testemunham que esse amor é possível. Tendo provado o amor eterno – experiência totalizante que a tudo mais relativiza – entregam sua vida alegremente, entre cânticos de louvor, enquanto pedem a Deus que seja clemente com seus algozes.
            Há pequenos martírios em nossas vidas. A mãe sofre os incômodos da gravidez e as dores do parto para gerar vida nova. O pai tem as mãos calejadas para sustentar a família. O médico se expõe ao contágio para cuidar dos enfermos. A mestra se sacrifica pelos alunos, mesmo tendo um baixo salário. E tanta gente simples que valoriza amigos e vizinhos, e acolhe o migrante que passa... São todos eles um Evangelho vivo. Dão a vida e sabem servir...
            Eu seria capaz de doar a minha própria vida? Já descobri uma missão que justifique essa aposta?

Orai sem cessar: “Se morrermos com Cristo, com ele viveremos.” (2Tm 2,11)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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